SOUNDX

80

Janelle Monae: The Electric Lady

Após o apoteótico The ArchAndroid, Janelle Monáe seguiu na aventura da sua alter-ego Cindi Mayweather com The Electric Lady. A extravagância do disco vai além da conceitualidade e da grande história desenvolvida por Janelle, pois, neste projeto, existe uma mistura de ritmos muito bem moldada, que se dispersa na sequência das canções. Com a gama de gêneros envolvidos no álbum, que vai do pop ao soul, ou do rock ao funk, há essa liberdade de Monáe em abordar diversos temas nas letras que fazem jus à personagem, acrescentando características da persona que tal qual o álbum, é cheio de detalhes e nuances. Destaque para as importantes participações do registro, com Prince, Erykah Badu, Miguel, Esperanza Spalding e Solange, que deixam as músicas que eles integram ainda mais elegantes. A obra é um novo capítulo importante da chegada de Monáe na expansão da diversidade sonora, não é à toa que é um dos melhores álbuns da década de 2010, por representar simbolicamente uma marca da versatilidade tão excêntrica e despojada do afrofuturismo. — Yan Alan

79

Lana Del Rey: Ultraviolence

Ultraviolence possui uma importância significativa dentro da música atual. Lançado em 2014 pela cantora e compositora Lana Del Rey, esse trabalho conquistou tanto fãs como críticos, graças à sua abordagem ousada e sombria. Com uma sonoridade influenciada pelo rock alternativo e pelo dream pop, Ultraviolence apresenta letras profundas e introspectivas que exploram temas como amor, solidão e autodestruição. Com sua estética melancólica e abordagem lírica sobre temas como amor perdido, desilusão, autodestruição e nostalgia, o álbum tornou-se um marco na discografia da cantora, influenciando uma nova geração de artistas e estabelecendo-se como um trabalho atemporal e icônico. ー Gerson Monteiro.

78

Kendrick Lamar: DAMN.

Semanas antes do quarto álbum de Kendrick Lamar, DAMN., ser lançado, rumores sobre a direção do álbum, desde sua suposta inclinação comercial até a infusão de elementos tribais africanos, começaram. Um dos detalhes mais intrigantes veio diretamente do próprio Lamar, quando ele insinuou que DAMN. não seria outro grande comentário sobre questões sociais, como seu antecessor, To Pimp a Butterfly, de 2015. As tentativas de Kendrick de se afastar da seriedade que havia acompanhado seus trabalhos anteriores já eram evidentes desde quando ele colaborou com artistas de diferentes esferas musicais, incluindo Beyoncé, Kanye West, Maroon 5, Taylor Swift e Sia. Ele até se aventurou em empreendimentos além da música, em produtos como roupas e acessórios. Essas ações pareciam ser sua forma de abraçar uma identidade artística mais diversa e acessível, mirando impulsionar sua mensagem para um público maior do que nunca.

No entanto, apesar das intenções do artista em mudar o foco, DAMN. não conseguiu escapar completamente de sua própria essência. O álbum consegue tocar com habilidade em temas de empoderamento negro, turbulência política e barreiras raciais. É como se a música de Lamar estivesse intrinsecamente ligada ao teor social, e sua voz autêntica entrelaça com facilidade as narrativas que o cercam. Musicalmente, o registro mostra o crescimento e a versatilidade de Lamar como artista. Enraizado no soul dos anos 70, o álbum faz referências ao soul psicodélico, semelhante ao estilo de Outkast. Definitivamente, DAMN. é mais acessível quando posto em comparação com o experimental To Pimp a Butterfly, mas continua expansivo: seu sucesso também significa que Lamar terá que lidar com expectativas elevadas no futuro, já que ele continua sendo uma das figuras mais influentes da música contemporânea. — Leonardo Frederico

77

Baco Exu do Blues: Bluesman

Mais do que apenas um álbum, Bluesman, do rapper Baco Exu do Blues, é uma das proclamações mais importantes feitas pela negritude brasileira. Encarnado no corpo do artista, o alter-ego do baiano, o qual é reconhecido pelo nome “Baco”, poderosamente põe por terra toda e qualquer injustiça sofrida pelos seus discípulos, dissertando muito bem sobre a grande problemática infundida na nossa sociedade. Nesse período, como forma de provocar a intolerância e hipocrisia do cristianismo e visando ganhar mais atenção para as mensagens que quer transmitir, o musicista diz ter espancado Jesus na polêmica faixa “Kanye West Da Bahia”, quando ele falou os seus desejos em embranquecer e alisar o seu cabelo para se tornar fiel à imagem que as igrejas criaram de Jesus. Em “Minotauro de Borges”, faixa passada, ele também faz provocações ao cantar sobre ter pintado o Éden de preto e ajudado Deus com suas crises.

 Porém, ainda enquanto faz todas essas críticas impertinentes, Baco Exu do Blues também canta sobre outros assuntos, fora da realidade fantasiosa da divindade Baco e mais centrado na vida amorosa do rapper. Inclusive, é dentre essas instâncias onde está resguardada uma de suas canções de maior sucesso: “Me Desculpa Jay-Z”. Juntamente da cantora 1LUM3, o rapper entoa o poderoso refrão da faixa, que encanta os corações de diversos brasileiros ao redor de todo o país: “Eu não gosto de você, não quero mais te ver / Por favor, não me ligue mais”.

Com o lançamento de Bluesman, Baco Exu do Blues deu muita força ao movimento preto no Brasil, inspirou e ainda inspira diversos artistas do seu meio a criarem mais obras com muita artisticidade e qualidade. A sua palpável produção de R&B, trap e hip-hop são constantemente revisitadas e vangloriadas pelo grande público, o tornando, desta forma, um disco cuja ouvida é algo essencial e imprescindível. — Bruno do Nascimento

76

Daughters: You Won't Get What You Want

Poucos álbuns, na última década, conseguiram capturar tão bem a sensação de medo. You Won’t Get What You Want é a trilha sonora para o terror, fobias, e desesperança. Da atmosfera sombria e aterrorizante das faixas, até as terríveis e desumanas ações do vocalista, Alexis Marshall, fora dos palcos, esse é um projeto que sempre foi cercado de negatividade. Se vale a pena ouvi-lo ou não, é uma decisão do ouvinte, mas que o álbum oferece uma experiência única, da maneira mais assombrosa possível, é inegável. — Matheus Henrique

75

Kids See Ghosts: Kids See Ghosts

A colaboração de Kanye West e Kid Cudi demonstra uma maturidade muito interessante na música e estética de ambos. Eles já vinham de álbuns que expunham essas questões em suas carreiras solo — estes que eram muito parecidos, até na quantidade de músicas e tempo de duração, com Kids See Ghosts. É um disco que flui muito bem, tanto pela sua duração, como também pelo modo que as músicas se encaixam umas com as outras. Além disso, o uso de samples e os instrumentais mais minimalistas causam uma sensação quase etérea ao álbum, que nos leva a um outro universo, onde a imaginação de Kanye e Cudi tomam conta e seus fantasmas podem ser observados — Tiago Araujo

74

Solange: When I Get Home

When I Get Home é amplamente reconhecido como um dos álbuns mais bem estruturados e coesos da última década. Com uma estética culturalmente rica, Solange conseguiu acompanhar as altas expectativas estabelecidas por seu aclamado álbum anterior, A Seat At The Table, considerado um marco na carreira da cantora. O que torna When I Get Home tão espetacular e ainda mais apreciado é a sua simplicidade na produção, que, mesmo minimalista, consegue ser hipnotizante e encantadora, assim como os vocais da cantora. O trabalho meticuloso na composição e a habilidade de Solange em transmitir sua visão, de forma autêntica, estabelecem um padrão elevado na indústria da música contemporânea, fazendo do projeto uma obra-prima do r&b e neo-soul. ー Gerson Monteiro

73

Beach House: Teen Dream

O Beach House é um sinônimo de criação de atmosfera em músicas. Nos dois primeiros discos, eles exploraram uma atmosfera de melancolia lo-fi, mas, em Teen Dream, seu terceiro registro, eles elevaram o dream pop a um nível mais grandioso e arrebatador. Trabalhando as influências de My Bloody Valentine e Mazzy Star e gravado em uma igreja, ele é o trabalho mais equilibrado da dupla até hoje: enquanto as linhas de guitarra sinuosas, os tons sombrios do órgão e as batidas minimalistas mantiveram-se presentes, crescendos inspirados no gênero shoegaze e solos de pianos brilhantes também dão as caras. Na época de seu lançamento, inclusive, o álbum quebrou com as barreiras do seu próprio mercado, atingindo um público maior e mainstream. No conjunto, a abertura sugere um espelhamento sonoro de movimento e ciclicidade, ao passo que “Norway” é o momento mais onírico do registro e “Take Care” é uma carta de carinho para seu eu do passado. Nesse sentido, em vez de ser um simples resgate nostálgico daqueles grandes clássicos em mente, Teen Dream torna-se um deles. — Leonardo Frederico

72

Tame Impala: Lonerism

Lonerism é uma viagem imersiva ao rock progressivo e psicodélico produzido por Kevin Parker. Diferente de seu primeiro disco, Innerspeaker, aqui temos um som que, apesar de ser muito mais pop, também remete à psicodelia e o rock clássico dos anos 60 e 70, entrelaçados por um manuseio certeiro dos sintetizadores, além dos riffs vibrantes e das batidas extrovertidas já apresentadas em seu trabalho anterior. O passado e o presente compõem um seleto de canções que abrilhantam majestosamente as experiências transcendentais do ouvinte. É um álbum que ousa ser magnético e efervescente, entregando uma atmosfera enérgica e alucinante. ー Yan Alan

71

Joanna Newsom: Have One On Me

Quando Joanna Newsom anunciou que seu terceiro álbum, Have One On Me, seria um set triplo, rapidamente um pensamento tomou conta daqueles que seguiam seu trabalho: pesadelos com um registro repleto de canções que se estendiam para os mais de vinte e cinco minutos de duração, com composições de larguras épicas e quase bíblicas. Isso porque seu trabalho anterior, Ys (2006), foi sua declaração artística mais ousada: apenas cinco faixas com uma média de duração de mais de dez minutos cada, contando histórias por linhas abstratas. Era uma produção nada acessível e que só conseguia ganhar o coração daqueles que dedicavam seu tempo — e paciência. Have One On Me, por outro lado, é seu trabalho mais completo: de um lado, temos toda ousadia de criar canções que são densas o suficiente para serem obras totalmente autônomas do disco, como “Baby Birch” e a faixa-título; do outro lado da moeda, suas músicas mais convidativas desde seu disco de estreia, como “‘81”e “Jackrabbits”. Porém, com certeza, ainda é um processo de audição difícil: sua produção amena e contida, na maioria das vezes reservada a harpa de Newsom, posta numa atmosfera puramente crua, luta para se fazer interessante em um primeiro momento — apesar das claras influências de Joni Mitchell aqui e ali. No entanto, se você procura um caminho completo para conhecer Joanna, esse é o mais certeiro. — Leonardo Frederico

70

Juçara Marçal: Encarnado

Encarnado, primeiro grande lançamento de Juçara Marçal enquanto artista solo, é uma sensacional extensão do trabalho da cantora enquanto vocalista do Metá Metá — banda paulistana de jazz e rock bastante renomada. Mesmo se tratando de um “acréscimo” do material do grupo do qual a cantora faz parte, a alta qualidade das produções da obra e a atuação de Marçal fizeram do álbum um clássico, autoral de Juçara, no Brasil. E isso fez com que ela se tornasse uma das melhores e mais significativas figuras musicais brasileiras, dando procedência à sua carreira depois com Anganga, projeto colaborativo com Cadu Tenório; Sambas do Absurdo, com Rodrigo Campos e Gui Amabis; Delta Estácio Blues e Sambas do Absurdo Vol. 2, novamente com Campos e Amabis. — Bruno do Nascimento.

69

Florence + The Machine: How Big How Blue How Beautiful

O terceiro disco de Florence + The Machine ainda é o esforço mais arriscado da banda até agora. Em 2015, essa foi uma percepção clara, não apenas por seus próprios méritos, mas também pela ausência das falhas que assombravam seu antecessor, Ceremonials, este que foi feito propositalmente para dimensionar a dramaticidade de “Cosmic Love”, do Lungs, para um álbum inteiro e, embora tenha seu apelo na voz titânica de Florence Welch, também é verdade que a repetição formulaica inevitavelmente faz com que o fogo perca sua faísca. Em How Big How Blue How Beautiful, porém, Welch e o grupo mostram mais versatilidade no som, nas letras e na performance. Apoiado por uma impressionante produção audiovisual chamada Odyssey, este LP, por sua tomada de riscos e resultados, é a marca da artista na última década. — Eduardo Costa

68

Charli XCX: Number 1 Angel

Em sua primeira mixtape Number 1 Angel, Charli colabora com os grandes nomes da PC Music como Danny L Harle, A.G. Cook e EASYFUN, e sua já conhecida colaboradora SOPHIE. Além disso, ela chamou uma lista de convidados extremamente diversificados entre si e com universos únicos, mas que de alguma forma se encaixaram perfeitamente na proposta do projeto. Na faixa “Dreamer”, que dá início ao álbum, Charli proclama que é uma pessoa que sonha alto: com a fama, limousines, e tudo que uma carreira de popstar poderia proporcioná-la — mas da sua maneira. A produção hipnótica de A.G Cook e a deliciosa participação de RAYE — que muitos anos depois viria a estourar com o hit “Escapism” — tornam a abertura do álbum uma espécie de síntese da energia que o projeto visa transmitir. 

Entre outras parcerias marcantes, podemos destacar “3AM”, colaboração com a cantora dinamarquesa , que conta a história de uma relação desgastada, porém irresistível da qual Charli parece não conseguir escapar. Novamente, é inevitável dar destaque a produção extremamente cativante de A.G Cook, dessa vez em parceria com EASYFUN (juntos, formam o duo Easy FX). Na parte final do álbum, a canção “Drugs”, em conjunto  com ABRA, serve como exemplo perfeito de uma canção que soaria tosca e terrível na voz de qualquer outra cantora, mas que, no universo de Charli XCX, ganha outra conotação. Ao longo da canção, a cantora traça comparações entre seu interesse amoroso e um traficante, chamando de suas “drogas favoritas” tudo que lhe é entregue por essa pessoa, uma ideia que é tão ruim, mas tão ruim, que pode acabar soando ironicamente genial.

Os momentos mais acelerados do álbum ficam por conta de SOPHIE, que trabalha novamente com Charli nas faixas “Roll With Me” e “Lipgloss”, em parceria com Cupcakke. Enquanto a primeira soa como uma injeção de adrenalina e beira uma canção pop perfeita, a segunda se joga em um cenário completamente caótico e estridente, no qual a voz de Charli aparece somente para cantar um refrão chiclete cheio de eufemismos que contrastam com os versos sexualmente explícitos de Cupcakke, tornando o encerramento da mixtape uma bagunça que você definitivamente irá querer ouvir de novo.

Como menção honrosa, “ILY2”, produzida por Danny L Harle, funciona como a música mais “fofa” do álbum, traduzindo o sentimento de estar gostando de alguém por meio  de uma produção crescente e cheia de brilho, juntamente com  uma letra envergonhada e apaixonada. No geral, a mixtape cumpre seu papel de sucessora do projeto “Vroom Vroom EP” e funciona como um projeto menos experimental que seu antecessor, porém bem-sucedido em manter os sentimentos eufóricos, lúdicos e despretensiosos obtidos pelo mesmo e a essência pop que sempre foi tão presente na arte de  Charli. Number 1 Angel é a prova material de que é possível fazer música pop sem propósito algum e ainda assim soar genialmente original. — Julio Kazmarek

67

Car Seat Headrest: Twin Fantasy (Face to Face)

Desde seu lançamento, Twin Fantasy é considerado a grande obra-prima de Will Toledo. Mesmo após os cinco lançamentos posteriores e as cinco coletâneas anteriores, incluindo o exuberante Teens of Denial, o registo, no entanto, ganhou um novo charme e uma nova visão em 2018, após Toledo fechar contrato com a gravadora Matador e transformar Car Seat Headrest de projeto solo para uma banda completa. 

Lançado em 2011, depois de outros cinco projetos completos, mas considerado o primeiro álbum propriamente dito de Toledo, Twin Fantasy — que mais tarde receberia o subtitulo de Mirror-to-Mirror — tinha um estilo asqueroso e era totalmente planejado e orquestrado por Will. As letras do disco, no geral, refletiam os mais profundos demônios e angústias de uma adolescência cercada de medo, confusão e euforia, tendo um foco centrado no relacionamento homoafetivo e problemático que ele estava tendo na época. Tudo escrito de maneira crua e expositiva, numa maneira que qualquer um facilmente poderia se identificar. 

A versão regravada e lançada em 2018, conhecida como Face-to-Face, consegue recapturar toda animação e excitação que Will outrora havia mostrado sem precisar de muitas alterações ou parecer algo desajeitado e antiquado. Toledo, nessa versão, adiciona linhas de baixo, instrumentos melhores, mais qualidade no microfone e uma visão melancólica, porém sagaz, sobre seus sentimentos juvenis, conseguindo levar o ouvinte a uma catarse de emoções durante seus 71 minutos, indo desde a empolgação em “Bodys” até a melancolia em “High to Death”. — Marcos Paulo

66

Tulipa Ruiz: Efêmera

Com seu lado encantador e intimista, Efêmera revela a versatilidade e sensibilidade artística de Tulipa Ruiz. A mistura cativante das baladas melodiosas e dramáticas, nos transporta para um universo sonoro único. As composições poéticas de Tulipa capturam emoções efêmeras, explorando temas como amor, incertezas e autodescoberta. Sua voz doce e expressiva evoca uma profunda conexão emocional com o ouvinte. A produção sofisticada e os arranjos meticulosos adicionam camadas de profundidade e textura às faixas. Efêmera é um testemunho da maturidade artística de Tulipa Ruiz e é um deleite auditivo que nos convida a mergulhar em sua jornada emocional. — Brinatti

65

Kero Kero Bonito: Bonito Generation

Às vezes, é difícil encontrar aquele artista com o qual se pode contar para recarregar as energias após um dia longo e extenuante. Há momentos em que tudo que se quer é escutar música pop em sua forma pura, alegre, divertida e descontraída. É aí que Kero Kero Bonito e, mais especificamente, Bonito Generation se encaixam —  com produção electropop que remonta ao city pop japonês e temáticas líricas abrangentes, como quando Sarah Bonito dá uma aula de como saltar em um trampolim. Há uma significância bem bonita nisso: “Though I love it when I’m floating / It’s kinda lonely at the top / But if we all jump together / Then we’ll go higher”, ela canta essa metáfora sobre atingir o topo do sucesso e, mesmo assim, sentir-se sozinho. No fim das contas, há muito o que se detestar, com o que se zangar e se decepcionar no mundo, mas Bonito Generation torna possível esquecer, durante 36 minutos, tudo isso. Como diz o título de uma das faixas, “Try Me”! — Kaique Veloso

64

Caroline Polachek: Pang

Em Pang, a cantora Caroline Polachek difunde as próprias ideias conceituais sobre o que é a música pop de maneira excepcional, destrinchando-as em uma instigante peça musical, cuja sonoridade encanta pela simplicidade e, ao mesmo tempo, pela subjetividade ao se retratar temas desde complicações amorosas e desejos intrínsecos a auto-questionamentos e descobrimento pessoal. Com o lançamento desse disco — e a ótima performance de “So Hot You’re Hurting My Feelings” no meio underground — a artista se alavancou a níveis bem altos e se consagrou como uma das mais entusiasmantes promessas para o futuro da música contemporânea. — Bruno do Nascimento

63

Emicida: AmarElo

AmarElo é um ato revolucionário e emocionalmente impactante que coloca Emicida como uma das vozes cruciais no rap brasileiro. A combinação poderosa das batidas pulsantes, letras engajadas e colaborações inspiradoras — como Mc Tha, Drik Barbosa, Majur e Pabllo Vittar —, faz o ouvinte mergulhar nas complexidades sociais do Brasil. Emicida traz à tona questões de raça, desigualdade e empoderamento, com uma narrativa apaixonada e reflexiva. As faixas ressoam, com autenticidade, uma mistura de estilos, incluindo elementos de MPB e samba. AmarElo é uma obra-prima que transcende gêneros e se torna um hino de resistência, amor e esperança. — Brinatti

62

Taylor Swift: Speak Now

Speak Now foi um disco de “primeiras vezes”: a primeira vez de Taylor morando em uma megalópole como Nova Iorque, a primeira vez em uma turnê mundial, a primeira vez escrevendo todas as músicas da lista de faixas totalmente só, a primeira vez as escrevendo sobre seus problemas públicos que tomaram a mídia, a primeira vez lidando com imprevistos de lançamentos — com o vazamento na Internet do seu lead single “Mine” semanas antes da data prevista —, a primeira vez perdoando e reconhecendo os próprios erros, a primeira vez conquistando o inacreditável feito de vender mais de 1 milhão de cópias em uma única semana. Enfim, o terceiro álbum da cantora de “Love Story” foi intenso em todos os sentidos. Em cada uma de suas 14 faixas há referência a algum fato relevante dos seus últimos 2 anos, seja o incidente com o rapper americano de Yeezus, seja a separação de seus pais, e até mesmo seus relacionamentos com artistas da grande mídia. No que tange à roupagem que embala essas canções, a capa do disco com o vestido roxo de princesa de conto de fadas não poderia passar uma impressão mais equivocada. Apesar do pop country clássico já abordado em Fearless, de 2008, e da balada “Enchanted”, que soa exatamente como um conto de fadas; o registro quebra todas as expectativas ao mostrar um lado maduro e profundo de Swift em “Dear John” e “Last Kiss”, e as influências do punk-rock em “The Story of Us”, “Better Than Revenge” e “Haunted”. 

Se Speak Now fosse um livro, seria difícil classificá-lo em um movimento literário: há o perfeccionismo com a forma e a escolha das palavras de um parnasiano — como quando Taylor diz “You’re still an innocent” e convenientemente soa como “You’re stealing innocence” —; mas há a subjetividade e o idealismo do amor do romântico de Goethe; há o cultismo e a dualidade entre bem e mal, céu e inferno, castidade e sexo do barroco; há, ainda, a simplicidade bucólica do arcadismo,  que vai de encontro à visceralidade realista das letras ácidas como de “Better Than Revenge”. Em suma, o que existe de mais marcante aqui é nada menos que a simultânea graciosidade de uma noviça e a força de uma jovem mulher. Parece que, em 2010, Taylor já seguia os conselhos de sua avó Marjorie sobre nunca ser esperta o bastante para esquecer de ser gentil, nem gentil o bastante para esquecer de ser esperta. E isso ela foi. — Kaique Veloso

61

LCD Soundsystem: This Is Happening

Na época de seu lançamento, This Is Happening foi vendido como o último álbum do LCD Soundsystem, que, desde seu debut nos anos 2000, vinha em uma crescente promissora, tanto em termos de popularidade, como de aclamação crítica. Embora a banda tenha retornado em 2017 com um novo disco, American Dream, o antecessor ainda soa como uma despedida. A sonoridade dance-punk que caminha entre o new wave sintetizado de Talking Heads (“Pow Pow”) e a psicodelia de The Strokes (“One Touch”), juntamente com uma lírica nostálgica e casual (“Home”), indicam o fim de um ciclo, mas fazem isso de maneira celebratória. Ao longo de suas nove faixas e mais de uma hora de duração, This Is Happening se consagra como um registro dançante e detalhado; um dos grandes trabalhos do grupo e uma adição essencial para o cenário punk da década passada. — Marcelo Henrique

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