SOUNDX

60

St. Vincent: Strange Mercy

Strange Mercy é o terceiro álbum da cantora e rockstar americana St. Vincent. Mesmo depois da sua estreia animadora com Marry Me e o seguimento instigante de Actor, nada poderia preparar a audiência para o que viria a ser, possivelmente, o seu disco de maior robustez. O resultado foi fruto de árduo trabalho: a cantora conta que, para ele, decidiu se isolar de tecnologia e comunicação e se enfurnar no estúdio em Seattle, onde chegou a trabalhar 12h por dia na confecção do registro, apresentando  temas que percorrem eventos pessoais como a prisão de seu pai em 2010, na faixa-título, até a natureza e a malícia dos fetiches da persona de “Dominatrix” em “Chloe In The Afternoon”. Tudo isso, é claro, recheado com sintetizadores eletrizantes e guitarras escalafobéticas que, a esse ponto, já constituem a essência única de Annie “Vincent” Clark. A composição deste e de tantos outros trabalhos de Clark apenas fincam seu nome de forma irrevogável na história da música pop — e do rock. — Kaique Veloso

59

Danny Brown: Athrocity Exhibition

“Encarando o rosto do diabo, mas você não consegue parar de rir” é o que Danny Brown diz em “Ain’t It Funny”, principal single de Atrocity Exhibition, e é, também, a frase que melhor descreve o álbum como um todo: uma intensa jornada na mente do rapper, na qual ele se abre, da maneira mais maníaca e louca possível, sobre seus vícios, estes que ele sabe serem prejudiciais, mas que são bons demais para conseguir abandonar. Porém, Danny não estaria satisfeito em apenas nos contar sobre seus vícios. Logo na faixa de abertura, “The Downward Spiral”, que conta com  um instrumental criado por batidas irregulares de bateria e notas trêmulas e psicodélicas de guitarra, fica claro que Danny Brown não quer que o ouvinte apenas escute o que ele está falando, mas também que ele  sinta, através das músicas, os efeitos, bons ou ruins, que esses vícios podem trazer. Este é um projeto que, do começo ao fim, está lotado com as batidas e instrumentais mais malucos e únicos em um álbum de rap da última década (discutivelmente, de todos os tempos). Por exemplo, a anteriormente mencionada “Ain’t It Funny”, contendo pesadas batidas de grave, misturadas com o que soam ser buzinas de carro, estas que, no refrão, são acompanhadas por uma estranha melodia de trompetes, é uma das canções de rap mais desorientadoras, porém incríveis, que você pode ouvir. E essa criatividade perdura por faixa após faixa, fazendo Atrocity Exhibition ser uma constante e incansável montanha-russa de sensações, sejam elas prazerosas ou dolorosas. — Matheus Henrique

58

Mariah Carey: Caution

Caution é um registro que incrementa classe e modernidade à discografia de Mariah Carey. Aqui ela nos apresenta um R&B muito moderno, no qual Carey mostra domínio. Faixas como “Giving Me Life”, “Caution” e “GTFO”, são exemplos de ótimas produções, possuindo riqueza em sua sonoridade mais moderna e romântica. Liricamente falando, é um ótimo trabalho, e os vocais de Carey impressionam, mostrando que, depois de muitos anos, continuam firmes e conservados. Caution pode ser considerado um de seus melhores trabalhos, tendo em vista que ele se difere um pouco de suas obras anteriores e ganha destaque na grande discografia da artista. — Lucas Lima

57

Beach House: Bloom

Se Teen Dream foi o registro mais equilibrado do Beach House, responsável por alavancar sua carreira e concretizar sua assinatura, Bloom, o quarto disco da dupla, foi o instante em que Alex Scally e Victoria Legrand apresentaram seu material mais profundo e sedimentado. Bloom captura a essência da banda, debruçando sobre a juventude ociosa e sua nostalgia, enquanto a produção dá continuidade ao estilo do álbum antecessor, com mudanças sutis — ainda que o disco soe mais pop do que nunca. O título reflete a explosão lenta e gradual de cada música, resultando em um trabalho de sensações múltiplas, com o principal objetivo de envolver o ouvinte ao ponto dele perder noção de tempo e espaço. “Myth” abre o disco fundido seu instrumental mesmerizante de tons etéreos, ao passo que “Lazuli” remonta o som do The Cure para refinar sua atmosfera com melodias estilo Casio. “Irene”, com seus mais de quinze minutos de duração, encerra narrando sobre um paraíso excêntrico com êxtase elevada ao máximo. Bloom é uma obra-prima e, com suas músicas fundidas por sons intercalados, cria uma sensação de unidade e expande sua paleta sonora, ao ponto dela ser totalmente singular. — Leonardo Frederico

56

Lorde: Pure Heroine

Pure Heroine apresenta a voz única e a perspicaz lírica de Lorde. Neste álbum, ela nos presenteia com uma fusão inovadora de elementos pop e alternativos, resultando em um trabalho surpreendentemente maduro, que transcende sua própria idade. As letras introspectivas, por vezes irônicas, exploram temas profundos como a juventude e a fama, com uma sinceridade genuína. A produção, que cria uma tensão minimalista e atmosférica, é meticulosamente elaborada para realçar a voz de Lorde, adicionando uma camada extra de profundidade às suas composições. Ao embarcar na jornada de Pure Heroine, somos transportados para um universo que consagrou Lorde como uma das artistas mais promissoras da música pop. — Brinatti

55

Linn da Quebrada: Pajubá

O pajubá, linguagem da comunidade LGBTQIAP+ brasileira, surgiu através da flexão do português com termos dos grupos étnico-linguísticos nagô e iorubá. Ele foi difundido e disseminado principalmente por travestis, que encontraram acolhimento nos terreiros de candomblé. O primeiro álbum de Linn da Quebrada, por sua vez, é um projeto transgressor por natureza e faz jus ao título que recebe. Concretizado através de uma campanha de financiamento coletivo pela Kickante, Pajubá contempla a pluralidade da vivência trans preta, sem espaço para eufemismos ou culpa. Ele começa imponente com a trinca “(Muito +) Talento”, “Submissa do 7º Dia” e “Bomba pra Caralho”, segue mais descontraído com faixas como “Necomancia”, “Coytada” e “Tomara” e finaliza reflexivo, com “A Lenda”. É um registro assertivo em contar sobre o escárnio e os percalços que essa comunidade vive, mas sem se cegar e perder a compostura. O funk e a música eletrônica, dois gêneros que historicamente se aproximam na música brasileira, se flexionam e ganham vida em meio a letras explícitas e cheias de trocadilhos, tão característicos de Linn. É ácido, cortante e debochado, e não poderia ser diferente. — Felipe Ferreira

54

Death Grips: The Money Store

Apesar da presença de Death Grips poder ser sentida, principalmente, na parte mais underground do hip-hop, é inegável a influência que The Money Store teve no gênero, como um todo, na década passada. A abordagem abrasiva que o grupo sempre adotou em seus álbuns foi uma das várias causas responsáveis pelo aumento da demanda, no decorrer dos anos, de um hip-hop mais agressivo. Neste ponto em sua carreira, o grupo já havia caído nas graças do público e da crítica com sua mixtape de estreia Exmilitary, mas foi com The Money Store que Death Grips evoluiu e levou adiante os gêneros de hip-hop abstrato, industrial e experimental. Neste projeto, considerado por muitos, até hoje, o melhor em sua discografia, a banda encontra o perfeito equilíbrio entre experimentalismo e acessibilidade, utilizando, individualmente e coletivamente, os pontos fortes de cada membro do trio: vocais e performances agressivas e animalescas de MC Ride, os instrumentais eletrônicos e distorcidos de Andy Morin, e o estilo de bateria rápido e incansável de Zach Hill, este que também é responsável pela explosiva e experimental produção, junto a Morin. E, apesar da agressividade e experimentalismo, todas as faixas no projeto são surpreendentemente contagiantes, contendo viciantes refrões com letras distópicas e enigmáticas — cortesia de MC Ride — que certamente irão grudar na sua cabeça no primeiro momento em que ouvi-las. — Matheus Henrique

53

Céu: Tropix

Em 2016, a discografia de Céu se expande para além de uma mera quantidade com o lançamento do LP Tropix, título este que já anuncia todo o clima tropical contido no álbum e que avança em seu significado ao entrelaçar com a vanguarda brasileira. O motor do disco é, de fato, a atmosfera que se pretende construir. O fator climatológico é constantemente acentuado pela reafirmação lírica, como em “Varanda Suspensa”: “Tropical, latino-americana / Litoral, início de janeiro / Tardes de veraneio”. Tal aspecto é onipresente na obra, característica esta que flutua entre o retrospecto mnêmico e o regionalismo que provoca a sensação aconchegante dos verões brasileiros. Além disso, o nome que o disco carrega indica o teor sintético que as músicas da cantora passam a possuir em seu quarto álbum, traço que está enraizado, também, no ideal psicodélico do movimento tropicalista. Toda essa fusão de elementos culmina na concretude do que se constrói: a excelência do tropical eletrônico idealizado pela Céu. — Isaías Fontes

52

FKA twigs: LP1

Muito antes de FKA twigs sintetizar a sacralidade e a sexualidade em seu robusto segundo álbum MAGDALENE, de 2019, a britânica foi responsável pela trepidação das estruturas convencionais do pop e do R&B quando lançou seu álbum de estreia LP1. O disco, que conta com produção da própria twigs assim como da venezuelana e produtora eletrônica experimental Arca, não somente fincou FKA como o nome feminino mais promissor do R&B contemporâneo, mas também deveu seu frisson social à sua intrínseca suntuosidade quando aborda a corporalidade de forma mítica. As faixas “Lights On” e “Two Weeks” são duas das mais especiais aqui, na medida em que condicionam a construção de um relacionamento à base da confiança um ao outro e da existência do interesse mútuo. De forma geral, LP1 soa atemporal e vanguardista, pessoal e relacionável, justaposto de emoções e sentimentos e significativamente celebrável. — Kaique Veloso

51

Daft Punk: Random Access Memories

Em Random Access Memories, o icônico duo, ao invés de se voltar para o futuro da música eletrônica, como feito em seus 2 primeiros álbuns, que trouxeram uma sonoridade inovadora no cenário do gênero para a época — o french house, sendo grandes pioneiros desse estilo —, focam seus olhares para o passado da música dance, reinterpretando o disco de forma divertida e criativa. Além da produção conseguir usufruir do estilo de maneira a criar uma atmosfera de discoteca dos anos 80 fantástica, é fascinante como eles, mesmo apostando em uma exploração de sonoridades retrô, mesclam intrigantemente a instrumentalização disco com elementos eletrônicos típicos dos franceses e sua estética futurista — esta última, por meio de vocais robóticos. Dessa maneira, não apenas criam um projeto que retorna ao tempo e consegue entregar excelentemente a essência das músicas do ritmo naquele período, como também apresenta uma maior inovação na abordagem deste som. — Davi Bittencourt

50

Gorillaz: Plastic Beach

Plastic Beach, da altamente renomada banda Gorillaz, participa de uma sequência única nas discografias musicais, considerando seu predecessor Demon Days. O terceiro álbum de estúdio da banda se estabelece como um legado político e um marco para a produção do electropop. Nesse sentido, a percepção política ambiental sobre a progressiva destruição do que nos cerca, de forma antrópica, encontra sua possibilidade de acesso ao mainstream, capacidade essa altamente relevante para a solidificação do teor persuasivo do projeto. Ademais, a efusão de sintetizadores e letras que ratificam a relevância do conceito tratado são alicerces para a grandiosidade que o álbum emana. Além disso, Plastic Beach é, de fato, um parâmetro basilar para as produções que vieram após seu lançamento no pop eletrônico. — Isaías Fontes

49

Sufjan Stevens: Carrie & Lowell

No começo de sua carreira, no início dos anos 2000, as principais aspirações de Sufjan Stevens eram desafiar a música: seu primeiro projeto ambicioso foi compor um disco para cada um dos estados norte-americanos — o que não saiu do papel. Mas, em Carrie & Lowell, ele decidiu desafiar a si  mesmo e à sua memória. Essa é uma obra profundamente introspectiva, que mostra o seu melhor trabalho como compositor até hoje. O álbum explora a complexa relação de Stevens com sua mãe e padrasto, abordando os temas de morte, infância e depressão, capturando, assim, a essência das dores da puerícia e a busca por significado em meio do sofrimento. As letras são cuidadosamente construídas, acompanhadas por uma produção minimalista e amena, porém profunda, que mescla elementos acústicos e eletrônicos de forma afável. Carrie & Lowell é uma produção íntima e despojada, lembrando as raízes folk do cantor, mas também trazendo uma abordagem fresca e inovadora. Seu trajeto é um enredo biográfico e o resultado é uma experiência auditiva profundamente emocional. “Death with Dignity” abre o disco com um imaginário do Oregon, que serve como  uma metáfora para a falta de sua mãe, sentida por Sufjan. “Should Have Known Better”, um sucesso melancólico, debruça sobre permitir ter as reações perante ao luto e “Fourth of July” é uma conversa entre Stevens e sua mãe no leito do hospital, instantes antes dela falecer. Carrie & Lowell é uma obra-prima assombrosa e profunda que mostra Sufjan Stevens não apenas em sua forma mais vulnerável e introspectiva, mas também dolorosamente ambiciosa. — Leonardo Frederico

48

Karol Conká: Batuk Freak

Em um dos grandes álbuns de hip hop feminino nacional, temos Batuk Freak de Karol Conká, que nos trouxe um disco cheio de cultura. Observamos muitos elementos das raízes afro-brasileiras, o que acaba resultando numa sonoridade rica em cultura. Suas composições abordam desde diversidade e raça até superação e aceitação. Um belo destaque se encontra na faixa “Bate a Poeira” que explora a realidade de muitas pessoas sobre sentimentos e aprovação alheia — algo que Conká vivenciou durante sua jornada pela fama e reconhecimento. Batuk Freak valoriza os vocais da rapper e nos entrega uma das melhores obras brasileiras na década. — Lucas Lima

47

Paramone: After Laughter

Na década passada, um movimento migratório contundente aconteceu com diversas bandas de rock. Uma transição de estética sonora e visual, em que a música pop abraçava e até impregnava o seio criativo de nomes famosos e que arrastavam multidões. Foi o caso de Coldplay e Maroon 5, que, para o descontentamento geral dos fãs, inevitavelmente trouxeram álbuns cada vez mais esterilizados e carentes de personalidade ou atitude desde então. Paramore passou por um processo semelhante, mas o efeito geral é a antítese desses casos frustrados. Embalados pela influência do new wave e do synthpop, o trio transformou o seu quinto álbum de estúdio em um caso emblemático de contraste. Enquanto o clipe de “Hard Times”, faixa de abertura e primeiro single do disco, é recheado de efeitos visuais coloridos, colagem digital e figurinos vibrantes, Hayley Williams canta sobre ideação suicida de maneira inconsolável. E esse fragmento representa o todo, em que guitarras e melodias contagiantes dão espaço e vazão para a verdadeira protagonista: o lirismo melancólico, visto por uma ótica super pessimista e vívida. Pela primeira vez, a banda não cantava sobre o que já havia passado e superado: temas como depressão (“Rose-Colored Boy”, “Fake Happy”), os aspectos conturbados do amor (“Forgiveness”, “Pool”), a dor da perda (“Tell Me How”) e a tarefa árdua de recomeçar (“Caught In The Middle”) ainda eram latentes e claustrofóbicos. After Laughter é um registro maduro, consistente e uma referência sólida do apelo e grandeza de Paramore, que se tornaram um símbolo de longevidade e uma influência fundamental para uma geração de novos musicistas. — Felipe Ferreira

46

Arca: Arca

Desde que estreou com suas mixtapes de música experimental influenciadas pelas vertentes do eletrônico e do hip-hop, a venezuelana Alejandra Ghersi sempre foi uma incógnita e uma das figuras mais cativantes de se acompanhar: ela era aquele tipo de imagem perturbadora da qual não se consegue tirar os olhos. Seus primeiros álbuns, Xen e Mutant, foram peças instrumentais que desafiaram a concepção do normal e do que se conhece por música. Enquanto este traçava o relato de uma história de como é nascer uma pessoa queer — isto é, intrinsecamente estranha e desviada da sociedade — como ilustrado nas faixas “Alive”, “Mutant” e “Faggot”; aquele era nada menos que uma vista sombria dos pensamentos negativos da artista. Soa essencialmente certo que seu primeiro álbum com faixas cantadas seja seu autointitulado Arca, de 2017, o qual não só evidenciou seu lado mais humano e menos amorfo — ainda que permanecesse estética e conscientemente repulsivo —, mas também tornou-se um cânone na música art-pop, que sofre com a falta da representação de fora do Norte do mundo. Depressivo, melancólico e majestosamente original, aqui Arca deixou de ser o pano de fundo de outros artistas para ser a estrela da sua própria narrativa. — Kaique Veloso

45

Rihanna: ANTI

Embora nesta década estejamos numa espera contínua por um novo álbum, houve uma época em que Rihanna lançava um a cada ano. Apesar da quantidade, ela nunca conseguiu fazer um material sólido que representasse suas eras de forma tão forte quanto seus singles. Mas isso mudou em 2016. ANTI foi lançado para ser uma antítese do que se espera da música de Rihanna. Embora não seja realmente um som novo para ela — “Pour It Up”, por exemplo, já era uma faixa do tipo ANTI —, esse álbum de fato é saliente em sua discografia, tanto que alguns ponderam sobre ser seu opus. O destaque “Higher” captura a voz única de Rihanna para mostrar versatilidade, e o risco compensa, tornando-a uma de suas melhores faixas. Suas baladas anteriores (“Stay” e “Diamonds”) carregam muitas das características de seus principais compositores, mas com “Love On The Brain” algo é diferente. Talvez seja a performance convicta e bem feita que a torne sua. Ou, então, apenas mais uma canção muito agradável da Rihanna.

O álbum tem várias faixas excelentes que, de alguma forma, estão conectadas por uma estranha coesão. O número 1 e single principal com Drake tem um gancho virulento e uma vibe caribenha, enquanto a interpretação infernal de “New Person, Same Old Mistakes”, de Tame Impala, eleva a música a outro nível, e “Only If For A Night”, de Florence + The Machine, aparece assombrosamente como interlúdio na versão deluxe. “Kiss it Better” e “Needed Me” são tão sedutoras que você fica totalmente imerso, não se importando se são ou não singles feitos para as paradas e gráficos. Estamos realmente falando de um álbum da Rihanna? Bem, é claro, esse é o ponto. “I got to do things my own way darling / Will you ever let me? / Will you ever respect me? No”, diz o impressionante dueto com SZA “Consideration”, a faixa de abertura. Essa mudança e, principalmente, a independência reivindicada por Rihanna são o que torna o ANTI tão atraente e significativo. — Eduardo Costa

44

Jay Z: 4:44

Jay-Z, um dos rappers mais irreverentes da Costa Leste, demonstra suas inseguranças, fala sobre suas relações com família e amigos e discorre sobre si próprio em 4:44. De fato, neste disco, o cantor se abre para a intimidade, o que torna o registro mais do que uma pintura momentânea do cenário social vigente, mas um capítulo significativo sobre a vida de um artista. Após a suposta traição à sua esposa Beyoncé e as controvérsias do brilhante Lemonade (2016), Jay-Z também se sente seguro em lançar um trabalho que debruça em seus sentimentos e nas consequências de todos os erros que cometeu. Por exemplo, “Smile”, com sua mãe, Gloria Carter, é uma faixa que perpassa os pensamentos do rapper retroativos sobre sua infância e à descoberta da homossexualidade de Gloria: “Society shame and the pain was too much to take / Cried tears of joy when you fell in love / Don’t matter to me if it’s a him or her / I just wanna see you smile through all the hate”, ele lamenta. Além disso, obviamente, a faixa-título destaca-se pelo tom confessional e lamentoso, na qual se desculpa com sua esposa Beyoncé. Com beats do No I.D e samples de Nina Simone e Stevie Wonder, 4:44 é não só um dos projetos de maior destaque na carreira do rapper, mas um dos mais confessionais da década. — Bowii Lima, Leonardo Frederico e Kaique Veloso

43

Mount Eerie: A Crow Looked At Me

No dia 9 de julho de 2016, a compositora e ilustradora Geneviève Castrée, esposa do cantor e compositor Phil Elverum, faleceu por decorrência de um câncer de pâncreas, diagnosticado um ano antes. A Crow Looked At Me, lançado apenas meses depois deste ocorrido, é o frio, sombrio, e desolador diário de Elverum, no qual acompanhamos o cantor descrevendo, através de calmas e tristes faixas acústicas, seu derradeiro dia-a-dia: um eterno estado de solidão e luto. Neste álbum não existe nenhuma luz no fim do túnel, A Crow Looked At Me é uma reflexão, nua e crua, sobre o que é a morte: uma triste, assustadora e inevitável verdade. — Matheus Henrique

42

Azaelia Banks: Broke With Expansive Taste

No começo da década de 2010, Nicki Minaj trazia o rap feminino de volta ao centro das atenções com os seus alter-egos implacáveis e a sua mistura irresistível com o pop. Depois dela, outras galgaram espaço no mainstream e emplacaram hits, porém há aquelas que são mais ambiciosas. Em 2012, Azealia Banks causou alvoroço com “212” e o EP 1991, se tornando uma promessa e agitando todas as ruas de Nova York. Seu flow ágil se misturava com as batidas dançantes e frenéticas características do house, causando identificação absoluta também com a cultura queer preta. Dois anos depois, ela lança seu primeiro — e, até hoje, único — álbum de estúdio, e eleva as ideias do seu projeto-piloto para outros níveis. Broke With Expensive Taste é um verdadeiro laboratório de criatividade, em que tudo é possível. Em 16 músicas, Azealia combina hip-hop com uma infinidade de gêneros musicais, vai de beats potentes a instrumentos como xilofone e saxofone, explora diferentes narrativas nas letras e a voz cantada protagoniza tanto quanto suas rimas afiadas. É um verdadeiro produto da sua ousadia e versatilidade, e que, para a tristeza e alegria de muitos, consagrou de imediato a excelência artística da rapper mais polêmica da nova geração. — Felipe Ferreira

41

Ariana Grande: Sweetener

Poucos meses após o lançamento de Dangerous Woman, em 2017, Ariana Grande já trabalhava no seu próximo álbum de estúdio. Sweetener, que sairia no ano seguinte, teve seu desenvolvimento impactado por eventos traumáticos que viraram a vida da cantora de ponta-cabeça, como o término do relacionamento com Mac Miller e, mais substancialmente, o atentado terrorista durante um de seus shows, em Manchester. Quase que de forma fortuita, seu quarto disco tornou-se um reflexo direto de tais circunstâncias; uma obra que, segundo Ariana, tem o propósito de trazer luz para momentos difíceis, “adoçando” a situação. Apesar dos pesares, a vulnerabilidade que permeia Sweetener não faz dele um registro doloroso — pelo contrário, ele se mostra altamente relacionável e restaurador, por mais que momentos como “no tears left to cry” e “breathin” tenham uma profundidade devastadora por detrás dos borbulhantes sintetizadores noventistas. Ademais, as contribuições de Pharrell Williams foram primordiais para fazer deste registro um marco na discografia da artista e uma das criações mais irreverentes que o mainstream viu na última década. Ao propor uma fuga das estruturas formulaicas e convencionais do pop contemporâneo, o produtor conseguiu capturar a personalidade de Grande como nenhum outro o fez. Seu estilo despojado de produção, marcado pela mistura pop-R&B característica dos anos 2000, criou um ambiente confortável e primoroso para a voz da cantora — foi aqui que Ariana encontrou sua essência. — Marcelo Henrique

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