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Radiohead: A Moon Shaped Pool

A Moon Shaped Pool é ocasionalmente visto como o disco de “término de relacionamento” do Radiohead. Embora não seja totalmente sobre um coração partido, o nono álbum da banda surge das experiências pessoais do vocalista, Thom Yorke, depois de terminar seu casamento de 23 anos, refletindo os traumas emocionais, a tragédia e o desespero. Ele é um mergulho nos lugares mais escuros e desconhecidos da mente, com composições que se debruçam sobre temas mais intimistas, abandonando o cinismo característico da banda e refletindo sobre um instante de rendição, na esperança por um triunfo após a dor. Em conjunto, o som de A Moon Shaped Pool é caracteristicamente atmosférico e melancólico, combinando arranjos orquestrais com texturas eletrônicas, guitarras etéreas e  vozes digitalmente modificadas. O trabalho de produção é sutil e meticulosamente desenvolvido, criando um clima perturbadoramente imersivo. Esse é um som que captura a profundidade emocional dolorosa das letras e cria uma experiência igualmente carregada. A principal canção do disco é “True Love Waits”, uma peça antiga, tocada pela primeira vez em 1995, e que encerra o registro. Essa faixa é apresentada apenas com o piano e a voz de Yorke, o que produz uma sensação de solidão e honestidade, que completa sua parte lírica que discorre sobre o desespero em esperar pelo seu amor verdadeiro. Por mais de uma década, o Radiohead pregou a necessidade de acordar para realidade, mas nesse disco, eles tomam seu tempo para perambular dentro de sonhos e pesadelos. — Leonardo Frederico

39

C418: Minecraft: Volume Alpha

Quando o assunto é Minecraft, certamente existe um fator nostálgico para várias pessoas, mas, Volume Alpha, trilha sonora composta por C418, nome artístico de Daniel Rosenfeld, consegue, facilmente, se sustentar por conta própria. A aclamada trilha, do igualmente aclamado videogame, contém belíssimas composições de música ambiente, estas que elevam a experiência do jogo a novos patamares. Estar explorando as cavernas de Minecraft, e, de repente, ser atingido por canções como “Subwoofer Lullaby”, “Moog CIty”, “Mice On Venus”, entre outras, é uma das experiências mais relaxantes que a música pode proporcionar. — Matheus Henrique

38

Tyler, the Creator: Flower Boy

Flower Boy é uma obra-prima singular de Tyler, the Creator, em que ele apresenta uma jornada sentimental e criativa fascinante. Diferente de seus trabalhos anteriores, marcados por polêmicas e letras provocativas, neste projeto ele se entrega a temas mais pessoais e introspectivos, expressando suas emoções com profundidade e habilidade através de uma produção minimalista e suave. Essa abordagem proporciona um espaço único para o artista refletir sobre suas ambições e inseguranças de forma íntima. O álbum transmite uma esperança notável, enquanto Tyler descreve o encontro com seu verdadeiro eu. As letras, embora acompanhadas de ritmos alegres, carregam consigo sentimentos conflitantes, explorando a saudade, a solidão, as conexões que possui com as pessoas ao seu redor, sua própria identidade e as dificuldades que tem em se relacionar, revelando a sua complexidade emocional. Sua maturidade musical brilha através de uma produção cuidadosa e admirável, elevando ainda mais a experiência auditiva. Flower Boy é uma obra que nos leva a uma jornada profunda pelas emoções, mostrando uma faceta mais madura e reflexiva de Tyler, the Creator, enquanto nos apresenta uma produção musical excepcional. – Brinatti

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Mitski: Be the Cowboy

O álbum de 2018 de Mitski aprimorou seu som e suas letras sem sacrificar a crueza e o tumulto de emoções angustiantes pelas quais ela é conhecida. Em Be the Cowboy, entretanto, a cantora está um pouco diferente: interpretando papéis, estabelecendo segurança, discutindo mitos e filosofia. Ao reivindicar para si a figura do pistoleiro americano, Mitski muda e sugere que todos podem ser cowboys. Isso ocorre mais em termos de conceito ou ideia do que no sentido literal (talvez a música mais diretamente relacionada ao título seja a joia tranquila “A Horse Name Cold Air”).

Como Kacey Musgraves no contemporâneo Golden Hour, as letras de Mitski em seu quinto álbum trazem simplicidade a temas complexos e sons orientados para o pop em seu próprio gênero, como se essas tarefas fossem fáceis de fazer. Pegue a infectada pela música disco, “Nobody”, por exemplo: três sílabas em loop são, de alguma forma, suficientes para expressar o sentimento de solidão. É argumentavelmente a peça central do álbum, além de ser  a música mais contagiante do seu catálogo, criada involuntariamente para ser tocada em festivais e turnê solo esgotados  com grande apoio da nova geração, algo que ela, como artista indie, jamais imaginaria receber.

Em contraste, até mesmo os momentos mais calmos do disco brilham. Embora a maioria possa dizer que o material lento de Mitski se concentra principalmente em seus  dois primeiros projetos, faixas como o pedido íntimo “Come Into The Water”, a angústia da paixão obsessiva confundida com carta de amor “Pink In The Night”, ou o country de “Lonesome Love” são diversas e reflexivas, talvez até mais convincentes. E, claro, “Two Slow Dancers”, sua hipnotizante balada de encerramento, cria seu próprio mundo em seus incomuns 4 minutos.

Falando em duração das faixas, a maneira como Mitski brinca com diferentes sonoridades em tão pouco tempo (a duração média é de 2 minutos ou menos) é coerente, dada a profunda emoção que ela consegue atingir. Isso acontece com frequência no álbum (em “A Pearl”, por exemplo, ou no sentido inverso em “Blue Light”), mas é a faixa de abertura, “Geyser”, que se destaca: começando com um movimento que se tornaria típico de Mitski, vindo de um verso lento e melódico, ela se transforma abruptamente, entregando uma performance explosiva “borbulhando de baixo”. É uma introdução perfeita para a visão de Mitski sobre o mito americano, que desenvolve um sucessor confiante das questões de identidade discutidas em Puberty 2, mas, aqui, como um cowboy seguro de si, ela usa as botas e segura a arma. — Eduardo Costa

36

Sky Ferreira: Night Time, My Time

O primeiro e único álbum de Sky Ferreira se tornou um clássico instantâneo. O disco vai muito além de uma estética que flerta com o Tumblr: ela criou uma atmosfera única com seu rock alternativo combinado a composições que qualquer adolescente entrando na sua vida adulta consegue facilmente se relacionar, fazendo, assim, com que seu legado se perpetuasse e fosse abraçado por uma nova geração. Night Time, My Time é uma estreia autêntica e forte, que serve de inspiração, mesmo indiretamente, para diversos projetos até hoje. Destaque para a faixa “Everything Is Embarrassing”, na qual o dream pop de Ferreira constrói uma das melhores canções da década passada e se faz indispensável aqui. — Lucas Eleotero

35

Kelela: Take Me Apart

Poucos álbuns atuais conseguem criar universos únicos e originais dentro de si. O primeiro disco de estúdio da cantora norte-americana Kelela, Take Me Apart, lançado em 2017, é um desses poucos. Cantando desde o término de um relacionamento, até o processo difícil e prazeroso de conhecer pessoas novas, as letras das músicas ressoam com um caráter extremamente honesto. Na questão sonora, a artista navega desde territórios que provou dominar em seus trabalhos anteriores, como a música eletrônica e o R&B, até outros estilos mais diversos, com a maior técnica e maestria possível. Take Me Apart conta com a ajuda de vários produtores de renome, como Arca e Jam City, os quais sempre trabalharam sob o olhar atento de Kelela durante anos para darem gênese às músicas. O resultado não poderia ser diferente: faixas absolutamente bem construídas e acompanhadas por letras majestosas. O projeto assim seja o máximo exemplo musical do que seria, nas palavras da própria cantora: “uma visão honesta de como navegamos a dissolução de laços uns com os outros, e de como ainda assim permanecemos otimistas e ansiosos para a próxima chance de encontrar o amor”. — Roger Chiquetto

34

Taylor Swift: 1989

1989 pode ser considerado um dos maiores álbuns pop da década. Toda sua era foi bem planejada nos moldes da indústria, o impacto do disco é exponencial. Taylor Swift conseguiu inovar em seu catálogo, que até então era composto majoritariamente pelo country. A artista mergulha de vez no pop e mostra sua genialidade em sua versatilidade artística e no marketing. Com grandes nomes na produção, como Jack Antonoff, Max Martin e Shellback, o disco carrega influências da década de 1980 em sua sonoridade, que são bem notórias em algumas faixas como “Style” e “Clean”, carregadas pelo synthpop. Em 1989, temos as clássicas composições de Swift sobre seus relacionamentos e como é retratada pela mídia. O disco elevou a carreira de Swift a outro patamar, a introduziu-a como uma artista pop e tornando-se  um clássico em sua discografia e nos discos da década de 2010. — Lucas Lima

33

Kacey Musgraves: Golden Hour

Álbum vencedor do Grammy de “Álbum do Ano” em 2019, Golden Hour, de Kacey Musgraves, é um disco em que a artista celebra o amor e suas realizações. Milagrosamente, sendo um álbum country, sua vitória surpreendeu a todos, especialmente porque estava concorrendo com gigantes da indústria, como Drake e Kendrick Lamar. Golden Hour carrega uma produção bem suave e intimista, é notável o tanto que Musgraves se esforçou para chegar nesse resultado. Sua obra encantou a todos que ouviram, entre os destaques temos “Butterflies”, “High Horse” e “Rainbow”. A conquista do prêmio Grammy coroou o trabalho de Musgraves e evidenciou sua habilidade de cativar o público com suas composições e talento musical. — Lucas Lima

32

ST. Vincent: Masseduction

St. Vincent tem sido dona de uma discografia invejável que consegue transitar com primazia entre vários canais da música pop e rock. Com tanta diversidade e álbuns bem direcionados, é difícil sinalizar o auge de Annie Clark. Em cada oportunidade ela se prova por meio de uma nova faceta e se adapta muito bem a ela, tornando o som produzido intrínseco. Com MASSEDUCTION não é diferente. Junto do renomado produtor Jack Antonoff, St. Vincent tem em mãos um álbum que se utiliza muito bem dos elementos da música pop, caminhando para subgêneros como synthpop, electropop e por que não pequenas pinceladas que remetem a sua experimentalidade rock? Estamos diante de mais um ângulo que a artista se permite mostrar. Esse consegue ser mais despojado, sensual, picante e atrevido. Para isso, sua sonoridade é engajada por momentos energéticos, o que se nota muito bem até a faixa “Los Angeles”. Mas, a partir dela, uma introspectividade é requerida vez ou outra quando adentra um piano singelo, o que não prejudica sua linearidade porque canções como “Smoking Section” estão lá para unir lados opostos e fazer com que St. Vincent entregue uma obra digna de renome. — Gustavo Rubik

31

Tame Impala: Currents

Currents solidifica Tame Impala como uma força criativa na música contemporânea. Kevin Parker, o cérebro por trás do projeto, entrega através do rock psicodélico uma produção sofisticada e camadas sonoras meticulosamente construídas. As batidas pulsantes e os synths hipnóticos transportam os ouvintes para uma jornada sonora reflexiva. Letras introspectivas exploram temas de autodescoberta e mudança. A voz etérea de Parker, por sua vez, flutua sobre as faixas, adicionando uma dimensão aérea. Currents é um álbum irresistível que captura a evolução sonora de Tame Impala e o coloca no topo da vanguarda musical. — Brinatti

30

Carly Rae Jepsen: E•MO•TION

E•MO•TION consolidou Carly como um dos nomes mais fenomenais do pop na década passada. Enquanto seu primeiro álbum, Kiss, falhava em apresentar algo que destacasse ela entre outras artistas do gênero para além do hit “Call Me Maybe”, em contrapartida, o registro seguinte mostrava todo o grande potencial da cantora, não revelado em seu trabalho antecessor. As canções trazem um caráter primoroso em diversos quesitos, principalmente, em sua produção inspirada no synthpop oitentista repleta de fantásticas escolhas — como os saxofones em “Run Away With Me” e as guitarras e sintetizadores de “All That”. Fora isso, o projeto também é recheado de faixas melodicamente envolventes, evidenciando assim a grande habilidade da canadense em criar melodias que facilmente cativam o ouvinte. São esses fatores, em especial, que juntos resultaram em E•MO•TION: um registro pop extremamente eletrizante. — Davi Bittencourt

29

Janelle Monae: Dirty Computer

Dirty Computer é o retrato de uma mulher negra e queer na sociedade ocidental do século 21. Ao longo da obra, Janelle Monáe passeia pelo neo-soul, funk e pop para reverenciar sua própria existência, ao mesmo tempo que reverencia a de suas semelhantes, e reafirma sua resistência. É, evidentemente, um trabalho político, capaz de cativar e gerar identificação em diferentes corpos, mas que não deixa de ser profundamente pessoal. A cantora entra em contato com si mesma, com suas experiências, sexualidade e liberdade, apresentando ao mundo uma biografia em forma de álbum. Poucos artistas são tão assertivos e criativos quanto Janelle no que diz respeito à exaltação do povo preto, sobretudo, quando se trata de mulheres e da comunidade LGBTQIAPN+, Dirty Computer é a prova disso. É um disco cativante, empoderador e reflexivo. — Lucas Souza

28

Rosalía: El Mal Querer

Em 2018, Rosália lançava El Mal Querer como seu trabalho de conclusão de curso na faculdade. O que talvez a artista não esperasse é que, com este projeto, ela estava apresentando ao mundo uma das obras mais fascinantes e importantes da indústria fonográfica espanhola da última década. Nele, sonoramente, a cantora fazia uma exploração cativante e criativa do flamenco, sendo que, ao mesmo tempo, em que mantém as características essenciais do estilo, procura quebrar os limites do mesmo, assim, trazendo inovação; isso se mostra em canções como “Reniego (Cap.5: Lamento)”, que mistura o flamenco com orquestra clássica, ou até em “De aquí no sales (Cap.4: Disputa)”, em que ela utiliza de sons singulares como motos e carros em uma hipnotizante instrumentalização. Ademais, o vocal potente e encantador da musicista atende perfeitamente à energia que o ritmo requer. Não é só nesse sentido em que El Mal Querer se destaca, como também pela sua parte lírica, que entrega uma adorável abordagem das dores de mulheres que vivem em um relacionamento tóxico. Para além da maestria entregue em diversos aspectos, o segundo álbum de Rosália mostra-se extremamente relevante por conta de como ela, com êxito, conseguiu levar de volta ao mainstream uma sonoridade que, em uma época na qual o mercado musical de língua hispânica era marcado predominantemente pelo reggaeton, há anos não se via fora do cenário underground e, ainda, usar desta de forma inventiva. — Davi Bittencourt

27

Robyn: Body Talk

Body Talk representa uma virada na vida da sueca Robyn. É o álbum mais importante e bem-sucedido de sua carreira e pode ser considerado um clássico da música eletrônica, devido a enorme influência que teve no gênero, na década passada. O mais impressionante é que Robyn conseguiu trazer um lirismo profundo, em músicas que tem o propósito de fazer o ouvinte vibrar e dançar. “Don’t Fucking Tell Me What To Do”, por exemplo, com sua letra que soa como um desabafo da artista, mas com a produção de uma canção mais vibrante. E não podemos esquecer da icônica “Dancing On My Own”, considerada um hino pela comunidade LGBTQIA+, causando um grande impacto, considerada por muitos uma das melhores da década. Logo no início dos anos de 2010, Robyn conseguiu a façanha de produzir um clássico que influencia e influenciará gerações futuras. — Lucas Lima

26

Grimes: Art Angels

Entrar no universo da Grimes, principalmente nesse álbum, é como entrar em um conto de fadas em que  tudo compõe uma estética “ethereal”. Os vocais sobrepostos nas batidas dançantes, às vezes apenas gritos como na faixa “Scream”, te levam a outros universos. A dinâmica do quarto disco dela pode parecer estranha à primeira vista, mas, à medida que você avança, consegue compreender toda essa bagagem experimental. Os singles “Flesh Without Blood”, “Kill V. Maim” e “California” são uma ótima introdução a esse conjunto de faixas que a Grimes criou, passando por um synthpop dance e letras ótimas, que acabam te fazendo se jogar para dançar e cantar com todas as forças, o que torna uma escolha boa de singles para atrair o público, especificamente amantes de pop, para o álbum completo.

O restante do álbum continua na mesma pegada, o que não o faz ruim, pois sempre temos uma surpresa durantes os minutos que estão passando. A faixa com participação da Janelle Monáe é eletrizante (talvez uma surpresa, é tanto uma faixa com as duas que possuem estilos totalmente diferentes). O batidão, o violino e a combinação das vozes das duas conquistam facilmente. Grimes foi perspicaz durante a produção desse álbum. Mesclar tantos sons diferentes pode ser desafiador, porém ela prova ao contrário disso com o Art Angels. — L. Henrique

25

Tyler, The Creator: IGOR

O álbum IGOR de Tyler, The Creator teve um impacto significativo na indústria musical desde seu lançamento em 2019. Com uma sonoridade inovadora, que mistura diversos gêneros como neo-soul, R&B alternativo e synth-funk, letras emocionalmente profundas e uma abordagem artística ousada, Tyler estabeleceu-se como um dos artistas mais influentes de sua geração. O disco toca em temas como amor não correspondido, angústia emocional e autodescoberta, mostrando um lado mais vulnerável e introspectivo do rapper. As letras sinceras e as performances vocais carregadas de emoção se conectaram com uma ampla audiência, gerando identificação e uma ressonância emocional. O álbum recebeu aclamação crítica, conquistou prêmios importantes e inspirou uma nova onda de experimentação criativa no hip-hop. A obra deixou uma marca duradoura, desafiando as convenções musicais e influenciando uma nova leva de artistas. ー Gerson Monteiro

24

SZA: CTRL

CTRL é o impactante álbum de estreia de SZA, que conquistou tanto críticos quanto fãs. Com letras confessionais e uma abordagem autêntica, o projeto cativa os ouvintes ao explorar as complexidades do amor moderno e os desafios de ser uma mulher negra. A cantora desafiou as convenções do R&B ao mesclar, habilmente, uma grande variedade de estilos musicais diferentes, resultando em um trabalho inovador e arrebatador que indiscutivelmente deixou uma marca na indústria musical. A artista navegou com maestria por territórios musicais diversos, fundindo elementos do hip-hop, soul, pop e até mesmo do jazz, criando uma sonoridade única que cativou, não apenas os fãs do gênero, mas também uma audiência mais ampla. CTRL trouxe uma conexão emocional com o público e solidificou SZA como uma artista influente e inspiradora. ー Gerson Monteiro

23

David Bowie: Blackstar

O último projeto de David Bowie, Blackstar, foi lançado dois dias antes do seu falecimento. O álbum, totalmente transcendental e profético, marca o verdadeiro testemunho final do artista através de um viés experimental, que divaga entre os solos de jazz, criando uma produção sombria, misteriosa, desconfortante e fascinante. A sua voz inconfundível, impregnada de melancolia e sabedoria, transmite uma intensidade emocional através das letras enigmáticas que exploram a mortalidade e a espiritualidade. A necessidade de Bowie de sempre estar explorando algo de diferente em suas obras, mostra dessa vez, algo sofisticado, com arranjos mais complexos e texturas sonoras que revelam o constante desejo de desafiar os limites da música. Blackstar é um legado eterno, uma obra-prima atemporal de um verdadeiro visionário musical. — Brinatti

22

Kanye West: Yeezus

Com a popularização do hip-hop industrial e a estética agressiva do Death Grips, novas formas de interpretação no rap tornam-se possíveis. Desse modo, Kanye West, que estava começando a dar cada vez mais declarações polêmicas, decidiu inovar em cima desse som. Yeezus é frenético, totalmente autodestrutivo e o mais sujo que consegue ser o tempo inteiro — indo desde declarações abertamente polêmicas, citações abertas sobre sexo, até músicas mais intimistas e críticas ao racismo americano. Foi com esse álbum que Kanye deu uma virada na sua discografia, o que na época soava, para muitos, como confuso, hoje, já é reconhecido como genial. — Tiago Araujo

21

Beyoncé: Beyoncé

Em 13 de dezembro de 2013, ao lançar, de surpresa, seu álbum autointitulado, Beyoncé realizou uma verdadeira revolução no mercado fonográfico: desenvolver a audiovisualização de seu álbum com videoclipes de todas as faixas, tornando as possibilidades de consumo da música mainstream pop menos desafiadoras às experimentações na era digital, como também as perspectivas de universos transmidiáticos como base para a criação de uma narrativa original. Dessa maneira, o álbum, que conta com faixas como “Pretty Hurts” e “Flawless”, destaca questões a respeito da jornada de uma mulher em processo de libertação de diversas amarras impostas pela sociedade patriarcal, partindo de uma discussão sobre padrões de beleza, que culmina na expressão de sua sexualidade, compiladas em uma “série” de 17 episódios em formato de videoclipe. Se tratando de uma produção que provocou a indústria em sua proposta de expansão por duas vertentes distintas — mercadológica e identitária —, percebemos que a concepção da imagem de Beyoncé que estava sendo construída, mais estava relacionada à uma motivação criativa-industrial do que à expressão de Beyoncé Giselle Knowles-Carter de fato. 

Desde o início da era digital, a mistificação da figura do artista teve seus limiares cada vez mais afilados ao ponto de ser quase indissociável para os fãs, ou usuários de um ciberespaço comum, a desvinculação da pessoa com o artista que ela expressa, ainda que esta não tenha motivações pessoais. Ao iniciar um processo criativo em seu autointitulado, criando nele uma persona sua, as inspirações pessoais de Beyoncé assumiram um processo de dissociação, motivados por parte da resposta mercadológica ao álbum, que não assume o caráter e potencial puramente artístico da obra em questão. Quando, em 2013, para o documentário Self Titled, Beyoncé afirma que “quando está ligada à algo, imediatamente vê uma imagem ou uma série de imagens ligadas à um sentimento ou memórias e todas são ligadas à música”, ela descreve um processo de libertação de sua imagem como transformação plástica para uma memória de si mesma musicada, que não exatamente é verdadeira e nem sua. — Vitória Rocha

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