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STARFUCKER

• Fader

• 2023

7.5

Com STARFUCKER, Slayyyter faz uma entrega consistente, podendo ser mais ousada e criativa, mas por agora ela lida com acertos e erros dos registros passados.

STARFUCKER

• Fader

• 2023

7.5

Com STARFUCKER, Slayyyter faz uma entrega consistente, podendo ser mais ousada e criativa, mas por agora ela lida com acertos e erros dos registros passados.

PUBLICADO EM: 05/10/2023

PUBLICADO EM: 05/10/2023

O dito “sonho americano” é temática recorrente na indústria musical. Falar desse espaço remete quase que inconscientemente à Lana Del Rey, esta que firma pesadamente sua discografia numa conjunção repleta de dor, violência, amor e arte em composições encapuzadas pelo cortejo poético melancólico. Se por um lado a artista já enfrentou inúmeras críticas apontando uma romantização de relações abusivas, por outro, seu lirismo foi ficando cada vez mais afiado à medida que absorve tais apontamentos e rebusca sua capacidade lírica em torno do questionamento à cultura em Norman Fucking Rockwell!. Bem verdade que, diferente de Del Rey, esse cenário americano foi desenhado na música por críticas espinhosas. Impossível não citar Madonna e o controverso, mas imponente, American Life e toda a hipocrisia estadunidense jogada no ventilador, como a superficialidade na faixa “Hollywood”. Assim, de um jeito ou de outro, a partir de inúmeras abordagens artísticas, o sonho americano, em especial hollywoodiano, perpassa também por fama, luxo e sucesso, e STARFUCKER, mesmo que simploriamente, vem para colaborar a este arcabouço desiludido.

Obcecada com o mundo do estrelato, a ideia de ser uma celebridade acompanha Slayyyter desde seu primeiro trabalho musical com a mixtape homônima, especialmente as polêmicas de uma vida em constante perseguição midiática ditadas em “Celebrity”. No seu primeiro álbum, Troubled Paradise, de 2021, a artista continua nessa mesma rumada, explorando seu som pop brincalhão ao lado de letras sexualmente explícitas com doses de vulnerabilidade. Esses dois materiais são bem próximos. Fica evidente uma tentativa de abocanhar um espaço no hyperpop, assim como suas inspirações que, na mixtape, a fazem forçar um timbre que lembra, incomodativamente, Britney Spears. Portanto, sua primeira apresentação, apesar de bons destaques apoiados no electropop, se perde nas influências pop da década passada, deixando a pergunta em aberto: “quem é Slayyyter?”. Troubled Paradise é uma extensão similar apagada por músicas mornas em meio a realces, como a faixa-título e “Over This!”. Seu segundo disco chega um pouco mais consistente, podendo ser mais ousado e criativo, mas por agora ela está lidando com acertos e erros dos álbuns passados.

Como primeiro ponto, nota-se que Slayyyter não está tentando se enquadrar num espaço que comporta nomes como Charli XCX — excetuando o álbum Crash — ou Hannah Diamond, pelo menos não de forma explícita. Em STARFUCKER, ela encontra no pop dançante, pincelado por momentos de house e disco, o caminho definitivo para se apresentar artisticamente. O processo de maturação sonora pode ser visto com a capacidade de renovação do disco que, quando cansado de explorar os sintetizadores dançantes da personagem — a Miss Belladonna —, em faixas como “Dramatic”, “My Body” e a que carrega o nome da persona, parte para momentos criativos em que o eletrônico, adornado por toques agressivos, ganha espaço: “Erotic Electronic”, “Purrr” e “Plastic”. Embora Slayyyter demonstre preocupação quanto à fluidez, esse cuidado poderia aparecer mais vezes para traçar outra direção quando tudo fica convencional demais, como a boa sessão inicial que se exausta em “Memories Of You” e “Rhinestone Heart” — esta última, tanto sua produção, quanto a interpretação vocal, rapidamente transportam para a sonoridade disco que Ava Max executa em Diamonds & Dancefloor — ou ainda quando, após a abrasiva “Plastic”, retorna para a mesma fórmula do início com “Girl Like Me” e “Tear Me Open”.

Importante o nome de Ava Max aqui porque Slayyyter parece tentar ocupar um espaço nesse cenário dominado pelo dance e eletrônico. Vale citar também Kim Petras, inclusive, “I Love Hollywood!” facilmente poderia integrar TURN OFF THE LIGHT, se este não tivesse uma temática de halloween tão bem conceitualizada, ou mesmo seus versos lembram “Treat Me Like A Slut” do EP Slut Pop. Assim, STARFUCKER, encabeçado pelo contagiante single “Out Of Time”, apresenta uma artista diferente do que tinha sido visto até agora. O álbum tem um rumo claro e tenta seguir ele com afinco, mesmo que isso não seja possível sempre, por receio de exagerar na improvisação, talvez. Sua condução eletrônica dançante coloca a artista numa cena diferente, antes ela estava em um meio um pouco nebuloso, como se não soubesse qual direção seguir. Isso tornava o som dela despreocupado demais, refletindo especialmente nas letras. Certo que, há canções que não precisam ser levadas a sério e nem podem, como o som da dupla Frost Children. Mas será que é esse o caminho que Slayyyter queria seguir? Considerando suas inspirações em artistas consolidadas, como Lady Gaga e Britney Spears, e o cenário disco atual, desde seu conceito à produção bem direcionada, a resposta parece ser não.

Assim, perpassando por um som pop acessível, cativante e melodicamente atrativo, conjugando elementos básicos desse tipo de música, STARFUCKER, é, finalmente, um registro que consegue traçar a personalidade de Slayyyter de um jeito mais cristalino. Sua lírica afiada, disposta a desbravar o luxo e o sucesso de uma celebridade, — e não há faixa melhor para expressar isso que a presença irresistível de “Miss Belladonna” —, assim como os malefícios da exposição midiática, a padronização da beleza e vícios, como em “Plastic” e “Purrr” são diluídos na sonoridade envolvente dos sintetizadores. Outro recurso importante é a sensualidade, aparecendo não só nas letras ou mesmo na voz da cantora, mas também nos visuais do disco, utilizando-se de uma vibração erótica a base de luzes de neon em tons de rosa e roxo, traduzindo em música, isso vem com a pulsante “Erotic Electronic”. Portanto, se apossando de vários ângulos da vida em frente às câmeras, mas em especial, extraindo a ilusão hollywoodiana, esses são os traços formativos da narrativa quase que cinematográfica de Slayyyter.

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