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Prioritise Pleasure

2021 •

Fiction

7.5
Em seu segundo álbum de estúdio, a cantora Rebecca Lucy Taylor vai contra as tendências atuais do pop, traçando uma história sobre a sobrevivência a um término de relacionamento e a uma sociedade opressora.
Self Esteem - Prioritise Pleasure

Prioritise Pleasure

2021 •

Fiction

7.5
Em seu segundo álbum de estúdio, a cantora Rebecca Lucy Taylor vai contra as tendências atuais do pop, traçando uma história sobre a sobrevivência a um término de relacionamento e a uma sociedade opressora.
01/11/2021

“I Do This All the Time” é uma das melhores canções que Rebecca Lucy Taylor, sob o nome artístico Self Esteem, já escreveu. Na faixa, acompanhada de um instrumental minimalista, composto por uma bateria seguida por toques de sintetizadores, a cantora prescreve uma narrativa sobre as dificuldades de viver uma vida adulta tradicional quando tudo que você quer é não seguir os padrões. “Look up, lean back, be strong / You didn’t think you’d live this long”, ela canta nos primeiros segundos da música, antes de concretizar uma linha de pensamento que quebra com qualquer arquétipo social. É um relato verossímil e honesto, a peça mais visceralmente imagética de seu novo disco e da sua carreira. 

Seu segundo álbum de estúdio, Prioritise Pleasure, segue esses mesmos moldes. O disco, produzido por Johan Karlberg, é um rompimento com qualquer padrão de música pop estabelecido nos últimos anos. Tomando Kate Bush como inspiração, Taylor cria uma obra que mescla pop com rock, country, rap e experimental, além de traçar sua história sobre a sobrevivência tanto a um término de relacionamento, quanto a uma sociedade potencialmente opressora. “Todo o meu próximo trabalho é explorar como é complicado ser apenas um humano. Sou maravilhosa e terrível. Eu magoei pessoas e as pessoas me machucam. Eu sinto tudo e nada”, disse ela ao NME. É um disco espontaneamente sincero. 

Um dos pontos mais marcantes em Prioritise Pleasure é essa certa desconstrução que Taylor faz em torno do que há de conhecido sobre música pop nos dias de hoje. Além de modificações nas estruturas e sons proporcionadas por sintetizadores, a cantora realiza o resgate de estéticas sonoras do passado, porém, diferente de todos, essa reciclagem é mais contemporânea, pegando referências de, em metáfora, ontem. No primeiro caso, olhe para “I’m Fine”, em que  uma voz eletrônica — é difícil saber se é algo totalmente sintético ou a voz de Rebecca remixada — ecoa na frente de sintetizadores pesados e agressivos. Ou, ainda, olhe para faixa-título, que parece a fusão perfeita dos corais de Jesus Is King com as distorções aterrorizantes de Yeezus, dois álbuns de Kanye West. No segundo caso, você pode pegar as mais variadas faixas localizadas ao longo de todo o álbum, como “Fucking Wizardry” e “Still Reigning”, que parecem seguir moldes da perfeição pop do começo da última década, mas, em vez de soarem datadas, soam como boa lembrança nostálgica.

Porém, apesar da artista não seguir essas experimentações e reciclagens durante os mais de 40 minutos do álbum, ele ainda assim consegue soar como algo coeso, fluido e bem estruturado. Isso se deve, provavelmente, ao quão energéticas todas as faixas são. Em nenhum momento, Prioritise Pleasure parece desacelerar, sempre se mantendo animador, intenso e tônico de uma forma ou outra. Observe, por exemplo, a sequência inicial das três primeiras faixas: apesar de cada uma parecer seguir uma tendência — “I’m Fine” é violentamente sintética, “Fucking Wizardry” é um instante saudosista, e “Hobbies 2” soa como uma música perfeita para a Copa do Mundo —, elas ainda se encaixam bem, uma junção impensável. Posteriormente no álbum, outros gêneros, como rock e trap, se juntam na fusão. Tirando os poucos momentos em que Taylor soa como Dua Lipa, tudo se conecta pelo ponto genuino da busca pelo sexo, sensualidade e amor próprio. 

Puxando esse gancho, inclusive, grande partes da canções mostram Rebecca trabalhando seu lirismo em cima dessas temáticas. Sendo em busca de exploração sexual, emancipação de um relacionamento passado ou do amor próprio em essência, Taylor faz um trabalho meticuloso aqui. Suas composições conseguem ser, simultaneamente, cativantes e calibradas. Em “The 345”, por exemplo, ela entrega uma estonteante carta para si mesma. “Every single morning, look in the mirror / And think, ‘Ugh, you again’ / It’s not healthy to talk this way to me”, ela canta. Contudo, por fim, citando novamente, “I Do This All the Time”, essa faixa concentra as melhores passagens do disco: 

Stop trying to have so many friends

Don’t be intimidated by all the babies they have

Don’t be embarrassed that all you’ve had is fun

Prioritise pleasure

Don’t send those long paragraph texts

Stop it, don’t

Getting married isn’t the biggest day of your life

All the days that you get to have are big

Be wary of the favours that they do for you

Esse é o relato de uma jornada em que todos nós estamos: parar de se preocupar com o que os outros pensam e viver uma vida de felicidade genuína. Muitos de nós não estamos lá, mas Prioritise Pleasure é um dos lembretes de que esse lugar existe.

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