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Seventeen Going Under

2021 •

Polydor

6.5
O segundo álbum do cantor britânico Sam Fender é uma evolução orgânica do seu último trabalho, porém, apesar das melhorias, comete os mesmos erros.
Sam Fender - Seventeen Going Under

Seventeen Going Under

2021 •

Polydor

6.5
O segundo álbum do cantor britânico Sam Fender é uma evolução orgânica do seu último trabalho, porém, apesar das melhorias, comete os mesmos erros.
20/10/2021

O álbum de estreia do cantor britânico Sam Fender, em seu lançamento, soava como uma das maiores promessas em anos para o que tange ao futuro breve do rock casual. Um crítico do NME comentou que Hypersonic Missiles “se destacava em documentar a frustração de cidades pequenas, e é por isso que ele significa tanto para tantas pessoas”. Foi nesse disco que, pela primeira vez em anos, foi experienciado o possível nascimento de uma estrela do rock que tinha (quase) tudo em suas mãos para construir um futuro brilhante — como aponta Alexis Petridis, dizendo que o som de Fender era um “rock perfeitamente imperfeito”. Porém, algo que o disco de Fender e muitos de nós não conseguimos prever foi o caráter temporal da obra. Diferente de grande parte dos canônicos do passado e das inspirações do próprio cantor, as faixas que se fundiam em um rock alternativo, feito para as redes sociais do álbum, raramente tinham uma vida útil de mais de uma semana. Em outras palavras, pouco tempo depois de seu lançamento, o brilho de Hypersonic Missiles se apagou.

O segundo álbum de Fender, por sua vez, é uma progressão natural de seu primeiro. Como grande parte dos artistas — e diferente de poucos os quais têm a sorte de já entregar um trabalho que para maioria levaria anos e anos de experiência e carreira —, Seventeen Going Under é uma evolução orgânica do material que ele apresentou em sua estreia. Em poucas palavras, são as mesmas canções que o britânico apresentou em seu disco anterior, no entanto, “melhoradas”. O reverb está mais presente do que nunca; as atmosferas que parecem sair de sites sociais alternativos estão mais densas e fortes; a voz do cantor parece mais madura; suas letras, de alguma forma, ecoam ambiciosamente. Tudo isso, claro, sobre um filtro fotográfico que parece sair de um daqueles aplicativos que fazem suas fotos parecerem “tumblr”. Todavia, mesmo com toda essa evolução tanto estética quanto sonora e lírica, Seventeen Going Under comete os mesmos erros de seu irmão mais velho. O problema agora é que Fender não está mais em sua estreia. 

O maior problema do disco é, talvez, sua investida nas direções que não deveriam ser prioridade. Seventeen Going Under é um disco extremamente bem produzido. Contudo, ao mesmo passo que isso é uma benção, é uma maldição. A sensação obtida durante todo o disco é o enfoque total na parte sonora, tendo uma preocupação até mesmo exagerada com cada detalhe instrumental. Isso fica claro quando você ouve as guitarras, baterias ou os pianos carregados de sintetizadores que soam desesperados para te impressionar de alguma forma. Mas, enquanto isso se desenvolve, não sobra muito para explorar nas outras áreas, resultando em canções que parecem constantemente dilatadas no tempo — algumas parecem ter o dobro do tempo real — e monótonas e sem graça. Em outras palavras, Fender parece ter focado tanto seus esforços na morfologia de seu som, e em como ele soa para os outros que acabou se esquecendo de que uma música é muito mais do que a parte sonora. 

Bruce Springsteen sempre foi presente na vida de Fender. Na infância, o jovem britânico foi apresentado ao herói norte-americano por seu irmão. Rapidamente, Springsteen se tornou um modelo a seguir para Sam. Contudo, apesar disso, Fender raramente segue o que fez Bruce ser quem ele é. Além daquilo que foi mencionado no parágrafo anterior — Bruce nunca colocou a preocupação de sua estética sonora sobre sua essência e calibre lírico —, as faixas em Seventeen Going Under carecem de energia, de uma sensação de que aquilo foi escrito por um jovem para ser ouvido por pessoas jovens. Atente, por exemplo, a faixa-título, que apesar de contar com uma composição curiosa sobre uma vida cíclica, típica de alguém com 17 anos, raramente consegue ter momentos de clímax e deleite. Grande parte disso, é claro, e ironicamente, devido à produção que parece, através de um sintetizador, sufocar um saxofone responsável pelo charme da canção. Springsteen nunca deixou que seus sentimentos fossem ofuscados pela produção. Olhe para Nebraska, de 1984, por exemplo, que tem seu enfoque na narrativa, deixando sua produção relativamente crua, rústica e sem tratamento. Sam, aqui, parece ter ido pelo outro lado.

Contudo, pelo menos, Fender conseguiu herdar a revolta política de Springsteen, mesmo que essa esteja defasada em relação aquela que Bruce apresentou em seus primeiros trabalhos. Em “Long Way Off”, por exemplo, Fender traça uma das melhores composições de sua carreira, tornando-se um indivíduo ciente da sua (ex) posição na sociedade. A faixa carrega uma das melhores linhas do disco, quando ele canta: “I owe it to my folks for giving me an understanding of a world that shot my people down”. Infelizmente, por outro lado, não é sempre que ele tem a aptidão para isso. Olhe, por exemplo, para “Aye” que, apesar da letra política, no final, principalmente depois do fechamento da faixa, quando Fender grita repetidamente: “I’m not a fucking patriot anymore”, a sensação é que o cantor está mais preocupado em falar e mostrar sua opinião política orgulhosamente, de certa forma, ganhando em cima disso. Novamente, ele soa mais preocupado com o que vão pensar sobre isso do que propriamente com a arte em substância. 

Tomando certa distância das comparações inevitáveis com Springsteen, ao mesmo passo que Seventeen Going Under mostra uma evolução, como mencionado, do último álbum, também parece, em alguns instantes, não tão potente. No primeiro caso podemos olhar para “Last To Make It Home”, uma das composições mais inteligentes de Fender, misturando imagens do catolicismo antigo em metáfora dos novos deuses das redes sociais. No segundo, “Mantra” parece apenas um conjunto de frases motivacionais e “Getting Started” a personificação de Fender como uma espécie de coach motivacional. “I’m only gettin’ started / Don’t mean to be disheartened”, ele canta na segunda. No final do álbum, “The Dying Light” é uma das melhores e, curiosamente, a faixa mais Springsteen-iana do álbum, com um piano quase cru ao lado de uma letra que pinta cenas de uma cidade pacata em decadência. Mesmo com os erros, no entanto, Fender ainda parece um prodígio, afinal, até mesmo Springsteen teve seus dias ruins.

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