O melhor desempenho de Poppy continua sendo um EP de cinco faixas: EAT (NXT Soundtrack). Permitidas as comparações, tudo nele consegue transcorrer mais personalidade do que qualquer outro registro. O trabalho, que conta com peças de tirar o fôlego como “EAT” e “Say Cheese”, se rende ao metal e ao industrial por completo, sem que a cantora pareça indecisa, como na maioria das vezes. Para isso, Poppy projeta sua voz como nunca. Vocais abertos e rasgados, acompanhados da instrumentação estridente, condensam uma sonoridade que soa intrínseca a ela. Isso porque a artista sempre tentou fundir seu som entre o pop eletrônico e o metal, conjugando em transições desajeitadas e interpretações vocais sem confiança e aquém da produção, como “Concrete”, do disco I Disagree — assim como toda a obra. Ela não tem força suficiente para sustentar o que propõe. Assim, no início deste ano, quando o mais recente álbum nem tinha sido anunciado, o cover de “Spit”, da banda Kittie, foi lançado soando claramente como uma canção que bebe das fontes de EAT. Mas o que poderia ser, finalmente, o início de um material consistente, foi escanteado pela condução morna e desinteressante de Zig.
Sem muitos rodeios, mesmo propondo novas direções, Zig não tem fôlego para segui-las. Não possui nem mesmo ânimo para explorar com criatividade sua potencial vertente eletrônica industrial. No pior dos casos, é covarde. O primeiro single “Church Outfit” tenta criar uma atmosfera envolvente e sombria com sintetizadores rígidos, mas termina sem propósito e não gera o resultado positivo. Cantando sobre o traje desejado para seu funeral — que ironicamente já começa o enterro do disco também —, o que realmente chama a atenção positivamente são os vocais acrescidos nos últimos segundos, mas a trajetória até eles não vale a pena ser percorrida. O mesmo problema acontece com “What It Becomes”: Poppy insiste em vocais que não a valorizam, de modo que, a produção alta e desequilibrada abafa qualquer destaque de sua performance. Ou ainda, a faixa é constituída por tanta repetição que ela termina, mais uma vez, sem levar para lugar nenhum, não cresce, não progride e não busca se expandir: é vazia, assim como parte majoritária do LP.
Continuando no tópico repetições, o álbum é constituído por várias. Não que repetir uma palavra ou um trecho específico seja um problema. Para pegar um exemplo recente, a mais nova música de Caroline Polachek, a atrativa e extravagante “Dang”, repete a mesma palavra contínuas vezes, mas o diferencial vem com uma produção sempre inventiva que faz esquecer o recurso lírico. Extremando os exemplos, “Shameika” de Fiona Apple repete o mesmo trecho “Shameika said I had potential” frequentemente, especialmente no último refrão, mas tudo é tão bem colocado e despojado que soa como um mantra. A estrutura repetitiva de Poppy está mais próxima desta do que daquela, mas a falta de criatividade sonora faz com que os trechos sejam mais marcantes que qualquer outra coisa. O resultado? O conteúdo é chato e aparenta ser mais longo do que parece. Assim, a construção ruidosa potencialmente interessante de “1 + 0s” é evadida por um refrão aborrecedor: “So many one, one, one, one, ones / So many ones, one, one, one, ones / Don’t call me the one, one, one, one, one / ‘Less I’m the only one, one, one, one, one”. Para piorar, a faixa-título é mais insuportável. Além de engatar uma lírica vergonhosa, seus nem dois minutos e trinta segundos são preenchidos por pura encheção de linguiça: “When you zig, I zag, when you zig, I zag / I zigzag (8x)”. No geral, Zig não revela nada além de músicas que não crescem e se esgotam em poucos minutos a partir de construções pobres e desanimadoras.
Com “Hard” e “1 + 0s”, Poppy demonstra mais uma vez estar confusa. Ela tenta desenvolver um espaço conexo ao rock alternativo: a primeira tem elementos mais industriais, apresentando percussão forte repleta de distorções aleatórias que são esvaziadas pelo refrão e versos fracos. Enquanto tenta se localizar como um símbolo de resistência, a canção destinada a isso é irresistivelmente esquecível. Relembra até mesmo algo que Maggie Lindemann faria, não que isso seja algo muito positivo. O contraponto a essas canções vem com o pop eletrônico de “Flicker” e a peça que flerta com disco “Motorbike”, sendo esta um potencial destaque. Falando em realces, por incrível que pareça, o álbum é constituído por alguns: “Knockoff” clama por uma relação amorosa autêntica mediante um pop dançante, sombrio e forte, assim como a produção eletrônica agressiva da faixa “Zig” — apesar de tudo parecer desleixado graças a composição. Demonstra que o disco tem possibilidades curiosas quando caminha para essa sonoridade, não quando recorre ao rock comum a artista — não pelo menos neste trabalho. Um lugar mais sereno reside em “Linger”, onde o violão transicionado para o eletrônico expressa criatividade, e “The Attic”, iniciada pelo piano, se escora com alguma tentativa no drum and bass. Encerrando com “Prove It” sem provar nada além de estranheza, Zig é carente de identidade ao ficar ziguezagueando numa direção áspera e confusa que não sabe se vai ou se fica, se explora o novo espaço com vontade ou se retroalimenta aspectos malsucedidos do passado.