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1 Beat 1 Letra

2022 •

Warner Music Brasil

8.5
Para além de questões mercadológicas, 1 Beat 1 Letra mostra que MC Hariel está, mais do que nunca, disposto a revolucionar o funk como nenhum outro nome.
hariel (1)

1 Beat 1 Letra

2022 •

Warner Music Brasil

8.5
Para além de questões mercadológicas, 1 Beat 1 Letra mostra que MC Hariel está, mais do que nunca, disposto a revolucionar o funk como nenhum outro nome.
06/02/2023

“Na humildade, não me agrada a raça dos políticos. Um ou outro que salva, mas vamos tirar pelo menos o Bolsonaro lá!”, afirmou MC Hariel em uma apresentação antes do primeiro turno das eleições, no ano passado. A atitude do artista, algo relativamente comum comparado ao número de personalidades da mídia que se manifestaram contra a reeleição de Jair Bolsonaro, na verdade, é uma demonstração clara e objetiva do quão real e sincera é sua música.  É fato que as injustiças e os problemas sociais estão longe de acabar no Brasil após uma eleição e ciente disso, Hariel segue na sua luta diária de ser um dos nomes máximos do chamado funk consciente.

Em seu mais recente álbum, 1 Beat 1 Letra, o funkeiro se dedica em traçar uma abordagem política audaz, viva e que representa, do início ao fim, a cultura das comunidades de São Paulo. Em lugares onde a fonte de arte se dá de forma precária, restando apenas alternativas ignoradas pela grande mídia devido ao teor realista de canções que se enquadram no novo “proibidão”, Hariel se destaca não apenas por comandar alternativas novas do funk, mas por elevar, artisticamente, aquelas que já existem.

Na faixa de abertura, “Decepção”, que surge a partir de algumas notas semelhantes à base usada pelo DJ Kl Jay em “Diário de um Detento”, dos Racionais MC’s, Hariel conclama um conjunto de questões nas quais, segundo ele, são verdadeiras decepções da vida real, como a fome e a cultura negligenciada aos mais pobres. “A cultura é negada aos nossos pra que nóis continue sempre sangrando por aí / roubando por aí / matando por aí / morrendo por aí”, canta ele. Correto sobre as suas indagações, Hariel sabe que não precisa ir além, pois o seu alcance e a sua abordagem centrada em temáticas pouco difundidas no mainstream, ainda conseguem surtir efeito, mas ele, por si só, precisa deixar claro que não está nesse meio apenas por dinheiro. “Essa daqui não foi feita pra se comunicar com as plataforma digital esperando estourar / Essa foi pra se comunicar com as crianças”. Afirma.

Na sequência, “Congresso Central”, Hariel segue o raciocínio de protesto. Entre melodias e batuques sofisticados, com ritmo suave, ele canta: “Político pilantra vem só com demagogia / Eles não querem ver um favela no raciocínio”, e conclui: “Acredite em você e não na história de político”. Distante dessa, “Jaguarzão”, por sua vez, é o ponto de virada do álbum. Acessível, com melodias fortes e um fluxo mais intenso, a faixa se entende por um dos refrões mais viciantes que ele já fez, e mesmo que não dure muito, ainda assim é um destaque a parte.

“Velar”, com participação de MC Ryan SP, MC Neguinho do Kaxeta e MC Leo da Baixada, inaugura as parcerias do álbum. O destaque entre elas, todavia, acontece apenas em “Luz Apagada”, marcada por uma composição nostálgica, versos percussivos e que remetem ao melhor do funk paulista no início da década de 2010; e “Chama o teu Vulgo”, que passeia por aquilo feito nos períodos mais recentes do gênero, incluindo, o refrão com viés viral: “Chama o teu vulgo malvadão / Se quiser tomar tapão no bundão, no bundão”. O interessante, neste ponto, é como Hariel e seus convidados percorrem por diferentes fórmulas e períodos do funk, é uma celebração intensa. Em “Vai Embora Não”, por exemplo, entre dedilhar de cordas e beats alinhados ao miami bass, a letra carregada de sensualidade, demonstra o tom urbano e viril daquilo que o funkeiro produz nos momentos de descontração. Nota-se, nesta música, uma vocalização mais trabalhada, juntamente, com sons que não se repetem em outras partes do álbum. Tomado por prazer, Hariel canta: “Vai ter que mostrar sucção com essa boca nervosa / Sua marra vai cair toda agora / E cara de quem não queria vira cara de gulosa”.

Das semelhanças com outros projetos do cantor, 1 Beat 1 Letra parece ganhar vida própria. É um dos casos em que a obra faz o artista se reinventar. Isso acontece muito bem aqui, seja pela produção sofisticada ou por ser, sobretudo, um pacote completo do funk. Lançando um videoclipe para todas as músicas, o artista parece disposto em seguir o modelo de álbum visual que ficou popular após nomes como o de Beyoncé trabalharem neste tipo de promoção. No Brasil, Anitta também buscou seguir pelo mesmo caminho, embora tenha pouco se destacado. Hariel faz isso parecer fácil, não por depender de investimento, mas por usar da sua criatividade.

Ele comanda, como ninguém, a implementação de algo novo e refrescante, partindo de batidas, letras e todo um conjunto de fatores que ultrapassam o sentido convencional do gênero. Hariel faz isso enquanto preserva a essência do funk paulista e transforma este espaço, na sua maior vivência. Na música que encerra o álbum, “Set Xaolin “Bandida””, o MC reúne os artistas do seu selo musical, Xaolin Record’s, para uma disputa de versos que perdura por mais de sete minutos de duração. O resultado, como esperado, é um épico que dificilmente tende a se repetir. Hariel faz de 1 Beat 1 Letra uma verdadeira “haridade”, com H, como ele é conhecido.

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