SOUNDX

7 Estrelas | quem arrancou o céu?

• ZZK Records

• 2023

9.0

O novo álbum de Luiza Lian é uma continuação formidável do seu álbum anterior, Azul Moderno.

7 Estrelas | quem arrancou o céu?

• ZZK Records

• 2023

9.0

O novo álbum de Luiza Lian é uma continuação formidável do seu álbum anterior, Azul Moderno.

PUBLICADO EM: 20/11/2023

PUBLICADO EM: 20/11/2023

Após quatro anos em processo de confecção, o mais recente álbum de Luiza Lian, cantora e compositora brasileira, 7 Estrelas | quem arrancou o céu?, finalmente foi finalizado e entregue em julho deste ano. O disco marca o fim de longo período sem lançamentos inéditos da artista e representa uma continuação do tão estimado Azul Moderno, trabalho antecessor a este que havia a colocado em destaque na década passada como uma das grandes promessas do pós-MPB.

 Neste novo registro, Luiza Lian incorpora os mesmos elementos de trip hop e art pop que fizeram de seu lançamento anterior, Azul Moderno, tão apreciado pelo público. No entanto, desta vez, sob o contexto de relações sociais pelo meio virtual e os momentos de tensão política vividos no Brasil durante a pandemia. A cantora e seu colaborador de longa data, Charles Tixier, ao centrarem a temática da obra nesse contexto, deram a sua musicalidade um aspecto eletrônico e futurista, incorporando às faixas o destrinchamento de diversos ritmos musicais diferentes e experimentando, de forma intempestiva, com modulações e efeitos vocais.

 O que outrora podia ter se tornado um grande erro por parte da dupla, visto que a incorporação de tantos adereços assim poderia acarretar em um álbum extremamente bagunçado e desorientado, acabou, na prática, se tornando a melhor qualidade de 7 Estrelas | quem arrancou o céu?. Luiza e Tixier souberam trabalhar propriamente com a natureza volátil e instável do disco. Cada mísero detalhe foi colocado com o devido cuidado e atenção, de forma a não deixar nenhuma ponta solta na remenda e apenas melhorar o resultado final.

 Além dos elementos de trip hop, art pop e, claro, o clássico MPB, o novo álbum da cantora conta com a inclusão de R&B alternativo, funk, pagode, indie pop e até afrobeats, sem nenhum sobrepor o outro, todos trabalhando em harmonia. Essa pluralidade de influências e estilos de 7 Estrelas | quem arrancou o céu?, e a personalidade artística imponente de Luiza Lian fazem o disco destacar bastante dentro da cena nacional. No entanto, há outro fator do qual eu não poderia deixar de pôr em evidência — cuja presença também corrobora para o destaque adquirido — que são as reflexões feitas por Lian e Tixier nas composições. Nas letras do disco, ambos discorrem sobre a problemática na qual o Brasil se encontrava na época da pandemia e sobre relacionamentos amorosos. O período em que passaram dentro das redes —em decorrência do distanciamento social — fez com que eles tomassem para si um espaço para a discussão dessas questões em suas mentes e, posteriormente, manifestassem suas respostas, dúvidas e aflições de maneira esplêndida no registro.

 Luiza e Charles traduzem a angústia, insatisfação e êxtase que sentem em passagens líricas infundadas, ora em desespero e perdição, ora em carinho e afeição. “A Minha Música É”, faixa que abre o disco, se encontra entre a vertente mais amena e afetuosa. Nela, Lian faz um convite formal para seu público adentrar o universo caótico do disco, dizendo que a sua música é “uma paisagem” para nós entrarmos e fazer a nossa viagem: “um espelho para cada um iluminar o próprio caminho”. A canção inicia calmamente, para depois destrinchar numa batida forte e envolvente de R&B contemporâneo e trip hop. Posteriormente, a melodia cativante é quebrada numa produção mais incisiva e potente, terminando com Lian cantando ininterruptamente que todo mundo está “morto”, expressando a falta de identificação e autoconhecimento gerada pelo uso excessivo da internet através da repetição.

 Depois, ouvimos “Technicolor”, uma colaboração de Luiza Lian com a cantora Céu. Nesta faixa, Luiza e sua convidada abordam a situação alarmante na qual o mundo se encontra hoje em dia, compartilhando o microfone enquanto são acompanhadas por uma batida vibrante, que se caracteriza como uma mistura entre afrobeats, R&B e trip hop, juntamente de uma influência no funk brasileiro. Posteriormente, escutamos “Homenagem”, uma música acalorada, que combina elementos de reggae, R&B contemporâneo e ritmos africanos, cuja produção conta com o refrão mais memorável de todo o álbum: “Chega em casa, pensa em mim e faz uma homenagem”.

 Em “Forca”, Charles e Lian arrebatam o ouvinte com uma produção avassaladora de R&B e música eletrônica. Previamente, um narrador introduz a faixa e a apresenta como uma história verídica sobre “trapaça, fraude, submundo e mentiras”. Em seguida, uma instrumentação pesada toma conta da produção, desembocando no primeiro verso, em que Luiza cria um adendo: “Todo rei tem uma forca / Toda rainha uma forca / Cuidado com a corda na subida pra não sufocar / A mesma força que levanta / Pode cortar sua cabeça”. Com essa observação, a cantora e seu colaborador quiseram alertar o ouvinte sobre o perigo que paira sobre aqueles que detém grande poder aquisitivo, e como essa força, da mesma forma que os estabelece como figuras de relevância no meio político, podem também lhe derrubar. Mostrando assim a insegurança dentro do meio político, a música é, em geral, uma crítica pertinente ao governo brasileiro atualmente dominado pela corrupção. As mesmas ideias também são desenvolvidas em outros momentos no disco. “Cobras na sua mesa”, por exemplo, fala abertamente sobre isso, alertando sobre essa ameaça na seguinte passagem: “Veneno nos seus lábios / Veneno nos seus olhos / Cobras na sua mesa”. 

O novo álbum de Luiza Lian é uma continuação formidável do seu álbum anterior, Azul Moderno. Anteriormente, a cantora havia prometido uma viagem intensa, mas acessível a qualquer ouvinte. Embora eu acredite que a carga musical do disco possa ser um tanto pesada para ouvintes pouco preparados, considero que a promessa foi cumprida. Afinal, os pontos abordados por Lian e Tixier sobre política e amor conseguem agregar valor à visão de mundo de todos nós. Além disso, nesse registro, a artisticidade de Lian atinge novos patamares com o carácter futurista e distópico do projeto, marcando uma evolução admirável, mesmo que, na minha opinião, seu lançamento anterior seja um pouco superior. Portanto, mesmo que não seja algo de fácil digestão, a experiência é muito prazerosa, dada a alta qualidade do trabalho isso, pelo menos para minha pessoa, é tudo o que importa.

MAIS CRÍTICAS PARA

plugins premium WordPress