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Juliette EP

2021 •

rodamoinho records

2.0
A estreia musical de Juliette como cantora profissional é uma experiência vazia e penosamente desfrutável, além de ser extremamente desanimadora e inexpressível.
juliette

Juliette EP

2021 •

rodamoinho records

2.0
A estreia musical de Juliette como cantora profissional é uma experiência vazia e penosamente desfrutável, além de ser extremamente desanimadora e inexpressível.
14/09/2021

Traçando uma trajetória única na história do entretenimento brasileiro, a vencedora do Big Brother Brasil se tornou uma espécie de mensageira da cultura nordestina na visão das dezenas e milhares de fãs e seguidores espalhados em todos os cantos da internet. Juliette ganhou notoriedade depois de um caso que envolveu xenofobia por parte de outra participante do reality, e a partir desse, a comoção gerada nas redes sociais ultrapassou todos os limites existentes, do dia para noite, vimos um império ser construído em volta do nome Juliette. Para além do programa, a popularidade da participante tomou proporções inimagináveis, onde marcas famosas, empresas de valor altíssimo no mercado e as mais diversas personalidades da mídia queriam tirar uma casquinha na onda de sucesso e números que a envolviam. E muito antes de chegar no fim, todos já sabiam que ela seria a grande vitoriosa dessa edição tão simbólica, em que a antecipação do vencedor culminou em outras antecipações, como é o caso desse disco, feito enquanto a artista — se assim podemos chamá-la — ainda estava confinada dentro do BBB.

Apenas esse fato por si só já causa uma certa estranheza, pois algumas vezes Juliette foi pega cantarolando dentro do programa, e mesmo que isso seja algo extremamente comum, até porque ela cantava de uma forma bem mediana, foi constatado imediatamente que um disco precisaria ser feito para ela, pois como dito no início, as proporções de qualquer coisa feita pela mesma ganhava notoriedade e uma elevação gigantesca por parte do público e de quem via nela a oportunidade de lucrar. E assim foi feito, com a ajuda de ninguém mais ninguém menos que Anitta, o EP autointitulado Juliette começou a ganhar forma. Centralizado numa abordagem de sons regionais postados no Nordeste, o disco dispõe de arranjos modestos e bem delineados na medida do possível, com produção excelente e que remete aos grandes clássicos dos anos 80, seguindo o ritmo da sanfona e outros instrumentos bem característicos.

Contudo, essa abordagem musical revela a quão pretensiosa são as intenções da cantora, pois apesar de referenciar suas influências não ser algo negativo, aqui, tudo acontece de forma superficial e, muitas vezes, beirando o estereótipo de “música nordestina” — sendo essa uma crítica levantada inclusive, por vários nordestinos que estudam e acompanham a cultura pop. Outro problema que ganha um destaque na formulação do disco, é claramente o fato de que ele não contém nada, absolutamente nada da Juliette como artista, todo trabalho desde arranjos e composições foram terceirizados. A desculpa usada é de que o pouco tempo devido à correria e a agenda lotada evitaram com que ela pudesse se dedicar afinco num projeto musical como esse, o que acaba fortalecendo ainda mais a questão sobre como a fabricação mecânica desta obra simboliza um dos piores aspectos da música voltada unicamente para o lucro: a trivialidade. Por mais que os fãs defendam a importância da representatividade — que sem dúvidas existe na figura da cantora — nesse disco, analisando como um projeto musical feito para surfar no hype e no grande reconhecimento publicitário da artista, a ausência de profundidade na abordagem dos temas exerce um peso negativo que se faz presente em todas as 6 faixas.

A introdutória “Bença” se tornou rapidamente um viral nas redes sociais graças ao trecho “E o preconceito eu só engulo com farinha”, grande responsável por reforçar os parênteses sobre a superficialidade em que tudo acontece nesse projeto. “Diferença Mara”,  por sua vez, além de seguir na mesma linha que a anterior, ainda consegue soar mais acessível para massas, como se tivesse sido feita unicamente para ser usada no Instagram ou em trends de casal no TikTok. Ainda nessa faixa, a sonoridade esbarra no pop, mas mantém as raízes na música regional. “Doce”, é de longe a pior. “Pois nem o doce de batata doce / Tem seu doce mel”, canta Juliette enquanto o ouvinte tenta entender o sentido tosco que essa frase busca ter, tirando o então único crédito positivo da equipe envolvida na criação do disco: as composições. Todas músicas, desde as já citadas até as seguintes “Sei Lá”, “Benzin” e “Vixe Que Gostoso” trazem composições em um nível censitariamente medíocre e extremamente caricato. Tudo com uma péssima desenvoltura na execução da estrutura geral, como uma planície de ritmos reaproveitados que não sofrem nenhuma variação lírica diante de letras e narrativas pífias, que são misturadas aos vocais — novamente — medianos e nada especiais.

No final das contas, a estreia musical de Juliette como cantora profissional é uma experiência vazia e penosamente desfrutável, além de ser extremamente desanimadora e inexpressiva. Longe de soar como uma peça interessante na cena musical, ela precisou se apoiar em frases prontas para interpretar canções com um pingo de responsabilidade artística e, por mais que tente, não consegue se distanciar de apenas um produto formulado para vender, o que esvazia ainda mais todo significado dessa obra.

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