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Sob Rock

2021 •

Columbia

6.3
O primeiro álbum de John Mayer em 4 anos é um dos trabalhos mais fortes de sua carreira, mas ainda assim soa sem brilho.
John Mayer - Sob Rock

Sob Rock

2021 •

Columbia

6.3
O primeiro álbum de John Mayer em 4 anos é um dos trabalhos mais fortes de sua carreira, mas ainda assim soa sem brilho.
02/08/2021

Segundo John Mayer, Sob Rock é o primeiro álbum dele que estava “fechado” e seguia uma linha narrativa que fazia sentido numa visão macro. “Meus discos antes sofriam porque a porta estava aberta o tempo todo — novas músicas chegavam, canções antigas saíam”, disse ele em uma entrevista para o Apple Music. “Este é o meu roteiro, este é o meu filme, não vamos escrever uma cena diferente de um filme diferente”, completou ele sobre seu oitavo disco. No entanto, por mais que Sob Rock seja um dos álbuns mais fortes da carreira de Mayer, o disco como um todo ainda soa sem brilho, monótono e, até mesmo, perdido sobre qual direção seguir.

Sob Rock é o primeiro trabalho de Mayer em 4 anos, seguindo o The Search for Everything, de 2017. É também o melhor desde Born and Raised, de 2012. John é um exemplo não tão raro de como alguns artistas não usam a sua maturidade a favor de sua arte. Mayer está com 43 anos agora, mas ainda soa como um jovem de 23, mesma idade que ele tinha quando lançou sua estreia, Room for Squares. Por mais que tenha se passado 20 anos, os quais foram turbulentos — seu relacionamento cheio de farpas com Taylor Swift e acusações de racismo —, nada parece realmente ser refletido nem na composição, nem na sonoridade das músicas de Mayer. Dessa forma, Sob Rock aparece com composições passivas e um som nostálgico e usual. Seria ótimo como uma estreia, mas soa como uma catástrofe para um cantor com 20 anos de carreira.

Grande parte do disco é coordenada pelas leis habituais que surgem da colisão entre o country e o pop. Em outras palavras, não é nada muito diferente do que Mayer fez nesses últimos 20 anos, mas isso não significa que em todos os casos isso é um erro. A abertura, “Last Train Home”, é uma das melhores faixas do disco. Ela começa com batidas fortes e projetadas em uma caixa de bateria. Rapidamente, cordas, que soam mais como sintetizadores, surgem e se tornam o marco central de toda a parte sonora. Porém, dentro de todo o conjunto da canção, a melhor parte é a metáfora que Mayer estabelece na linha do título da canção. Quando ele canta: “I’m runnin’ for the last train home”, ele assume o papel de um homem, aos seus 43 anos, desesperado para achar alguém que seria sua esposa e lhe daria filhos, consumando uma idealização social.

Grande parte das melhores canções em Sob Rock são iguais à abertura: são relativamente boas, mas não vão muito além do que já se espera de John Mayer ou de alguém com uma visão limitada. “Shouldn’t Matter But It Does” surge como uma balada lenta, na qual John assume seus erros, mas entende que nem toda a culpa de sua relação é dele. Ele começa: “Shoulda been open / Shoulda done more”, e completa depois: “You shoulda been sad instead of being so fucking mean”. “New Light”, por sua vez, mostra o cantor brincando com tendência mais sintética, criando uma sonoridade retrô inspirada por luzes neons. Já “Shot in the Dark” é o ponto mais forte liricamente falando, com Mayer examinando uma relação do passado que não funcionou. Entre as linhas bem escritas, podemos notar possíveis referências ao relacionamento dele com Taylor Swift, quando ele canta: “I knew it from the first Old Fashioned, we were cursed, We never had a shotgun shot in the dark”, uma alusão clara a “Getaway Car” de Taylor.

Ainda falando de Swift, mas agora por uma lente negativa, “Wild Blue” parece uma versão barata da faixa título do álbum de 2012 de Taylor, Red. Quando Mayer canta no refrão: “Wild blue deeper than I ever knew / Wild blue on a bed of grey / Oh baby, what a wild blue”, você só consegue pensar quando Swift canta: “Losing him was blue like I’d never known / Missing him was dark gray, all alone”. Todavia, a pior música de Sob Rock é “Why You No Love Me”, faixa a qual Mayer entrega seu pior desempenho vocal, sua composição mais fraca e seu sonoridade mais apática. A canção começa com guitarras chorosas, as mais usuais e sem personalidade de todo o álbum. Entretanto, o ponto mais incômodo da faixa — e de todo o Sob Rock — é o refrão, quando Mayer aparece com uma voz quase desafinada, parecendo uma criança com um prendedor no nariz. Além disso, metade do tempo da música é, basicamente, repetição da linha título da faixa: “Why you no love me?”

Na reta final do álbum, Mayer introduz as faixas mais sonsas do projeto. Enquanto “I Guess I Just Feel Like” conta com um incrível interlude e uma quebra instrumental muito bem feita, o restante da canção é relativamente esquecível. Já “Til the Right One Comes” é apenas divertida, mas não tem nada que faça você querer voltar para ela, e “Carry Me Away”, que tem bons versos, possui o segundo pior refrão de todo o disco. Felizmente, a última faixa, “All I Want Is to Be with You” é um dos pontos altos do álbum com Mayer seguindo um som mais voltado para o country clássico e raiz. “They said I’d hurt you, said I’d run / Just like I always do with everyone / But you were different I was true / And all I want is to be with you”, ele canta. Mas, enquanto isso, não importa quantos pontos positivos Sob Rock tenha, nada parece justificar que esse seria um bom projeto para Mayer a essa altura do campeonato. Para não falar o pior, é apenas decente — aqui ele não ganha nada, mas também não perde.

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