Desde o ano passado, em que TWICE renovou seu contrato com a JYP, certas mudanças puderam ser observadas na carreira delas. Uma das mais perceptíveis é como as integrantes do grupo vem focando bastante em projetos paralelos — o que, até 2022, nunca havia ocorrido. Primeiramente, NAYEON fez sua estréia como solista com um EP recheado de R&Bs saborosos e “POP!”, single que trazia consigo os melhores aspectos do K-Pop cute — em especial, os refrões vibrantes presentes na maioria dessas faixas. Já em julho de 2023, Mina, Sana e Momo começavam a promover no Japão como um trio musical, entregando para seu primeiro registro da unit, canções que operavam com a sofisticação e a sensualidade com excelência. Um mês se passou e, agora, é lançado ZONE, mini-álbum de Jihyo e ele, apesar de em certos momentos apresentar canções genéricas demais, sendo que, com a noção do grande talento da artista, a líder de TWICE tinha capacidade de entregar algo mais surpreendente, é um disco que nunca deixa a desejar no caráter cativante.
Em uma entrevista para a academia do Grammy, Jihyo revelou que elaborou o registro de maneira a ser bastante eclético. É curioso como ZONE faz muito jus ao seu título, pois, ele apresenta a cantora em uma descoberta de sua identidade artística fora do grupo e, ao longo desse descobrimento, ela constrói nele sua zona musical com sonoridades que mostram um pouco do que ela gostaria de trabalhar como solista. A ecleticidade é uma das características mais positivas do projeto, já que a variedade de sons faz com que o ouvinte se mantenha cativado com todas as explorações de estilos feitas durante o decorrer do EP, garantindo que o mini-álbum nunca fique monótono. Ademais, mesmo que sonoramente diverso, curiosamente parece ter havido um esforço por parte da Jihyo para garantir sua coesão — o que muitos lançamentos de k-pop não tem —, visto que, as canções, mesmo com todas as suas diferenças, parecem manter certa conexão no âmbito sonoro. Para exemplificar, enquanto “Talkin About It” traz influências sutis de afrobeats nos versos, no momento que vem a seguir, “Closer”, essas inspirações africanas retornam, entretanto, além de mais formidáveis, também aparecem de maneira mais forte.
O mini-álbum tem um início fantástico com “Killin’ Me Good”. Ela traz uso na produção de gêneros dance que chega perto à excelência nesse quesito do EP de TWICE FEEL SPECIAL, a melhor obra delas. O synth-baixo proveniente do future house é extremamente envolvente, ao passo que, a bateria de UK garage nos versos é muito sedutora. No momento seguinte, no entanto, a qualidade torna-se pior, com “Talkin Bout It” sendo um dance-pop bem genérico que poderia ser feito por qualquer artista pop mainstream ocidental, dessa forma, boa parte dela acaba por soar nada fascinante. Porém o que torna ela cativante, entretanto, é seu drop. Os sintetizadores eletrônicos arrebatadores, o 2-step, além das melodias vocais atraentes de Jihyo tornam esta parte fenomenal.
A seguir, vem “Closer” e, nela, ela canta sobre acabar de conhecer alguém, porém, a química rolar instantaneamente entre ambos em um afrobeats saboroso. O que mais fascina na canção é o uso da voz da solista, que se destaca por trazer com êxito na performance a energia sensual a qual intensifica essa característica já apresentada por sua composição. Já “Wishing On You” se mostra como um destaque, principalmente, pela produção do duo Magdalena Bay — um dos artistas mais fantásticos do cenário pop underground na atualidade. É formidável como é feito o uso dos sintetizadores de future-bass e de glitchs na música de maneira a criar atmosfera com suavidez estonteante. Fora isso, a maneira como ela canta intensifica essa serenidade aliciante. “Room” é a melhor faixa lado b do registro, a instrumentação, com os violinos encantadores, as doces guitarras e a bateria com leve ar psicodélico, é extremamente apaixonante, enquanto que, o vocal de Jihyo soa mais amável que tudo no projeto nesse aspecto.
O ponto fraco de ZONE é o caráter genérico de muitas das faixas. “Don’t Wanna Go Back”, colaboração com Heize, por exemplo, apesar de adorável, não apresenta nada de surpreendente por elaborar algo que qualquer artista de R&B faria e, em um duo com cantoras tão excelentes, poderia ser entregue algo muito melhor. Algo similar parece ocorrer com “Nightmare”, na qual, a sua obviedade sonora também é um dos pontos que ela mais erra ao trazer o alt-pop em sua forma mais básica. É nesses momentos, em especial, que fica em destaque o grande papel que os vocais exercem no EP, pois a forte voz de Jihyo consegue tornar músicas que poderiam facilmente ser completamente desinteressantes, ao menos, aliciantes.
Por mais que em certas canções ela poderia ter apresentado ideias mais intrigantes e, dessa forma, evitar resultados genéricos demais, é uma boa estréia solo da artista, pois não apenas mostra o quanto Jihyo é capaz de sustentar um lançamento por conta própria com seu talento tanto em projetos individuais quanto em projetos no grupo, mas também, ZONE apresenta êxito em expor a versatilidade da cantora a partir da entrega de sonoridades diferentes nas quais a cantora se ajusta muito bem à todas essas. Na mesma entrevista para a academia do grammy, em que ela revelou sobre a ecleticidade do registro, ela falou sobre seus planos para a carreira dela fora do TWICE e, com eles, evidencia-se o desejo de traçar caminhos bem diferentes ao que ela traz junto às outras oito integrantes, demonstrando a vontade de lançar no futuro um álbum de jazz, por exemplo. Com o dito por Jihyo ao ser entrevistada, fora o apresentado em ZONE, as direções artísticas que a líder de TWICE está seguindo — ou propondo seguir futuramente — já se mostram fascinantes.