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Grammy 2023: Nossos comentários sobre os melhores e piores momentos

Do marco histórico de Beyoncé até a revoltante vitória de Harry Styles, confira nossos comentários sobre a última edição da maior premiação da música.
POR Leonardo Frederico
fevereiro 7, 2023

Uma obra-prima ainda não é o suficiente 

O que significa quando a própria academia de música chama uma canção sua de “magnum opus” e ainda assim você perde em uma categoria em que você é recordista de indicações? 

Foi isso que aconteceu com Taylor Swift: ela já foi indicada seis vezes para o prêmio de “Canção do Ano”, prêmio que debruça em premiar os compositores, mas nunca ganhou uma vez se quer. “Blank Space”, “Cardigan” e, agora, “All Too Well” estão dentro do pacote de ótimas (senão perfeitas) faixas que nunca foram favoritas o suficiente para levar o gramofone para casa. O significado disso pode espirrar para várias possibilidades: em 2016, por exemplo, “Blank Space” perdeu para “Thinking out Loud”, uma balada aguada de Ed Sheeran que tinha, em seu favor, altos números comerciais. Nesse ano, também, “See you Again”, de Wiz Khalifa, uma peça exageradamente sentimental e rasa, foi indicada ao lado da forte “Alright”, de Kendrick Lamar. Isso evidência, talvez, o caráter fortemente comercial e voltado para perspectivas masculinas brancas que agradavam o até então comitê branco da academia. 

Nesse ano, no entanto, Swift perdeu novamente, mas dessa vez o ato falho é maior. Bonnie Raitt levou o prêmio por “Just Like That”, baseada na história de um homem que teve a vida salva por um transplante de coração e visita a mãe do falecido. Embora afiada, está longe de chegar aos pés de outros indicados, como “Break My Soul”, de Beyoncé, e até mesmo “Easy On Me”, de Adele. Quando olhamos para a obra-prima de Taylor, então, uma composição que se estende para os 10 minutos de duração, com, provavelmente, as linhas mais icônicas e cirúrgicas ouvidas em uma canção de término da história, o sentimento é que a academia não quer reconhecer as habilidades da cantora como compositora. É um paralelo, em outro exemplo, quando a simplista e vaga “bad guy” ganhou de “Norman Fucking Rockwell”, de Lana Del Rey, e “Lover”, de Swift. Do meu ponto, o único jeito que entender isso é que, talvez, essas sejam músicas boas demais para serem compreendidas pela própria academia — mas nós, ainda assim, vamos lembrar de tudo muito bem. — Leonardo Frederico


 

Mais uma vez, o Grammy deixa de premiar a genial Björk, um dos maiores vexames da premiação

Com 16 derrotas e nenhuma vitória, Björk se torna a maior perdedora da história do Grammy, nove delas na categoria “Melhor Álbum de Música Alternativa”. A academia perde toda sua credibilidade deixando de premiar a artista, um  dos maiores ícones da música alternativa. Fossora, de 2022, merecia levar o gramofone por sua excelência no campo de produção e composição. Sem dúvidas a maior injustiça da cerimônia e da história da premiação. — Lucas Lima


 

Vitória de Harry’s House foi uma piada de mau gosto 

Considerado o melhor disco de 2022 por inúmeros veículos de imprensa, RENAISSANCE, de Beyoncé, foi esnobado em “Álbum do Ano”, marcando a quarta vez em que a cantora perdeu na disputa. A derrota foi ainda mais inexplicável por um projeto tão mediano quanto Harry’s House ter vencido o prêmio. Embora tenha sido uma noite repleta de conquistas para a voz de “CUFF IT” — que agora é a artista mais premiada da história do Grammys — é um feito agridoce, que explicita as intenções da Academia: usar o nome de uma mulher negra em benefício próprio para atrair audiência, limitá-la a subcategorias, nas quais ela quase sempre sai vitoriosa, entretanto, não reconhecer sua grandiosidade nas categorias principais. 

A ampla aclamação do RENAISSANCE não é por acaso. É apenas mais uma prova de que a texana desconhece limites quando se trata de se superar e de se reinventar. Consumar sua vitória no maior prêmio da noite não seria somente o mais coerente a se fazer, mas a oportunidade de corrigir uma injustiça histórica aos excelentes BEYONCÉ e Lemonade, que outrora também saíram derrotados na categoria. 

Então, não, ao contrário do que foi dito na noite de domingo, a história não foi feita, ela permanece a mesma. Cantoras pretas continuam sem conquistar um “Álbum do Ano” desde 1999, e Harry Styles é só mais um homem branco que não precisou de muito para ter seu trabalho reconhecido. A performance apática e sem fôlego do hit “As It Was” e o seu questionável discurso de vitória, no qual o britânico proferiu a frase “Isso não acontece muitas vezes a pessoas como eu” foram apenas a síntese de um resultado tão infame. — Lucas Souza 

 

Apesar de não ser a melhor opção, a vitória de “Unholy” foi muito simbólica 

É fato que nessa categoria havia opções melhores para ganhar o cobiçado prêmio, mas é importante analisar um tópico que vem sendo muito discutido nos últimos anos: a diversidade. Dessa forma, foi muito simbólico ver Kim Petras, uma artista trans, ganhar o maior prêmio da música, já que é muito raro de ver artistas transexuais ganharem prêmios nas maiores premiações. E vale ressaltar Sam Smith, um artista não-binário, e o discurso de Petras dedicando o prêmio para Sophie, artista trans falecida há dois anos, foi um dos momentos mais emocionantes e pertinentes da cerimônia. — Lucas Lima

 

A cada ano que passa, o Grammy deixa mais claro que a verdadeira perdedora da premiação é a própria indústria musical

Na vergonhosa edição de 2023, os organizadores do Grammy provaram, mais uma vez, como não entendem de música, mas sim de popularidade. Onde estava The Forever Story, do rapper JID, ou Melt My Eyez See Your Future, do Denzel Curry? Dois dos álbuns de rap mais aclamados do ano passado, ambos esquecidos pelo Grammy. Ao invés disso, tivemos duas indicações de Jack Harlow, o mais novo clássico de um artista que não tem absolutamente nada a entregar a não ser um rosto bonito; e DJ Khaled, com seu projeto caça níquel GOD DID, que foi, vergonhosamente, indicado em todas as categorias de rap. Com relação à categoria alternativa, por sua vez, ano passado tivemos duas bandas que, não apenas lançaram álbuns excelentes, aclamados tanto pelo público e crítica, como também estão ganhando cada vez mais visibilidade e começando a sair do nicho underground: Black Country, New Road e Black Midi, ambas esnobadas pela premiação. — Matheus Henrique

 

Ninguém em sã consciência iria considerar Harry’s House e cair em seu show de horrores

Ninguém em sã consciência iria considerar Harry’s House de Harry Styles um álbum melhor que os projetos de Kendrick Lamar, Adele, e (principalmente) Beyoncé, que estavam concorrendo para a categoria de melhor álbum do ano. Mas, de acordo com o Grammy, ele é, de fato, não apenas melhor que todos esses listados, como é também o melhor álbum do ano de 2022, coisa que acho que nem o fã mais delirante de Harry Styles iria concordar. E como uma cereja em cima do bolo desse show de horrores, nós tivemos o discurso de Harry Styles, no qual ele encerrou com a patética frase “Isto não acontece muitas vezes com pessoas como eu”, fazendo referência a uma minoria na qual, não importa a quantidade de roupas que fogem do padrão masculino ele queira vestir, ele nunca fez parte. — Matheus Henrique

 

A derrota de Adele em “Best Pop Vocal Album” é no mínimo vergonhosa 

Adele que, por sua vez, estava indicada pelo seu álbum 30, acabou sendo derrotada por Harry’s House, de Harry Styles. A vitória do britânico na categoria é um tanto quanto questionável, pois, em termos de qualidade, 30 é totalmente superior ao álbum de Styles. Sua produção é bem rebuscada e orgânica, além de ter composições mais consistentes. Diferente de Harry’s House, 30 apresenta mais emoções e carisma. Sem dúvidas era para Adele ter levado o prêmio. — Lucas Lima

 

Vitória de Beyoncé em categorias de música eletrônica representa uma conquista histórica e importante

Apesar da problemática derrota do RENAISSANCE em “Álbum do Ano”, tanto a vitória do disco na categoria de “Melhor Álbum de Dance/Eletrônica” como a do single “BREAK MY SOUL” em “Melhor Gravação Dance/Eletrônica” representam uma enorme mudança de paradigma. Ao conseguir esse feito, Beyoncé passa por cima do embranquecimento que, historicamente, o house music foi acometido. Um dos grandes objetivos da cantora com este disco foi promover o resgate do gênero ao povo preto e, mais uma vez, se saiu bem sucedida no que se propôs. — Lucas Souza 

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