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Roteiro para Aïnouz (Vol. 2)

2021 •

caro vapor vidas

9.0
De Frida Kahlo a Kim Jong-Un, Don L não teme coisa nenhuma ao citar o nome de grandes revolucionários comunistas, isso em momento onde no Brasil, professores são advertidos e militantes presos por tocarem no assunto que mais desagrada o governo e seus simpatizantes.
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Roteiro para Aïnouz (Vol. 2)

2021 •

caro vapor vidas

9.0
De Frida Kahlo a Kim Jong-Un, Don L não teme coisa nenhuma ao citar o nome de grandes revolucionários comunistas, isso em momento onde no Brasil, professores são advertidos e militantes presos por tocarem no assunto que mais desagrada o governo e seus simpatizantes.
07/12/2021

Poucos artistas da cena rap brasileira possuem um repertório tão significativo e imersivo como Don L. Em seus discos, o que mais chama atenção é a forma em que ele discorre sobre temas, os quais podem ser constantemente retratados por outros nomes, mas em nível de comparação, a sua arte é a mais expressiva entre todas. Quanto a isso, Roteiro para Aïnouz (Vol. 2), é a ponta da lança do rap nacional em 2021.

Depois de marcar a década de 2010 com a mixtape Caro Vapor / Vida e Veneno de Don L, Don L foi lentamente conquistando um destaque nítido entre os compositores e produtores mais criativos da música brasileira. E mesmo que as coisas mudem de forma rápida acerca das influências as quais grande parte dos artistas nacionais buscam trabalhar em suas obras, Don L parece entender isso perfeitamente, e essa questão é o que faz os seus álbuns serem verdadeiros retratos do momento e das situações que ele se encontra. É uma narrativa pura e sem artifícios.

Dessa forma, Roteiro para Aïnouz (Vol. 2), trata-se de um registro centrado na atual abordagem do artista acerca da sua visão — única e certeira — sobre o mundo e, principalmente, sobre o Brasil, onde ele retrata questões de uma forma inusitada para todos, inclusive, para ele. Para entender melhor como funciona todo o desenvolvimento sobre essa obra, basta analisar a situação em que nós nos encontramos. Desde a última eleição presidencial, a abordagem política na indústria musical brasileira precisou ganhar outros rumos. Há artistas que protestam, denunciam, que não se importam com absolutamente nada… e tem o Don L, o artista que se compromete. O que isso quer dizer? A resposta é simples, basta acompanhá-lo nas redes sociais para saber como o seu comprometimento acontece. Engajado em lutas sociais, Don L não se limita apenas a expor em suas músicas muito dos descasos enfrentados pelas minorias em nosso país. Ele participa ativamente na construção de movimentos em prol daqueles que são oprimidos, e quando falamos em construir, é de fato de envolver, sair às ruas, enfrentar perigos e situações das quais só servem para agregar na sua luta e na luta de seus companheiros. Comunista e artista, Don L é um gênio, e sua genialidade parece ganhar forma neste álbum, como no trecho de “pela boca”:

​hoje eles que morrem pela boca

​que se foda seus dólares na bolsa

​suas empresas agora são do povo

​suas terras são floresta de novo

​suas mansões, escolas

​seus soldados mortos pelos nossos

​quero ver cê falar com o gogó na forca agora

Nessa música, ela rima sobre um ideal revolucionário em meio a batidas distorcidas de funk. Levantando um dos principais pontos do álbum além da narrativa: a produção. Passeando por uma diversidade imensa de gêneros brasileiros, Don L consegue sintetizar cada um deles em suas músicas, onde uma por uma se estende ao longo de 49 minutos bem distribuídos entre 3 interlúdios, os quais contém o registro vocal de um pastor pregando em uma igreja pentecostal — marca registrada do avanço dos interesses de grupos religiosos dentro das comunidades em todo Brasil.

Ao mesmo tempo que é experimental, Roteiro para Aïnouz (Vol. 2) não deixa de ser acessível. Dos versos compostos que casam muito bem ao lado das melodias, até a inteligência do artista em dar sentido às suas mensagens, nada aqui parece ser em vão. De Frida Kahlo a Kim Jong-Un, Don L não teme coisa nenhuma ao citar o nome de grandes revolucionários comunistas, isso em momento onde no Brasil, professores são advertidos e militantes presos por tocarem no assunto que mais desagrada o governo e seus simpatizantes espalhados por todos os cantos.

Trazendo a realidade, expondo a sua luta e cantando com coragem, Don L, em Roteiro para Aïnouz (Vol. 2), é capaz de oferecer uma virtuosa evolução artística e pessoal. Seu trabalho é humano, é a comunidade, é os movimentos que ele cria e acima de tudo, é o fruto de um material de estudo rico sobre resistir e lutar. Talvez, por isso, Don L esteja mais seguro e confiante do que nunca, afinal de contas, ninguém faz como ele, ninguém é tão intenso e verdadeiro como ele.

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