SOUNDX

Sweet Justice

• 4AD

• 2023

7.4

Sweet Justice cumpre seu papel como representação full-size do potencial criativo de Tkay Maidza, embora seja redundante em suas construções.

Sweet Justice

• 4AD

• 2023

7.4

Sweet Justice cumpre seu papel como representação full-size do potencial criativo de Tkay Maidza, embora seja redundante em suas construções.

PUBLICADO EM: 08/11/2023

PUBLICADO EM: 08/11/2023

Nascida no Zimbábue e naturalizada australiana, Tkay Maidza deu o pontapé inicial na sua carreira musical com o lançamento de seu primeiro disco em 2016, TKAY. Embora ele tenha feito um sucesso moderado na Austrália na época, atingindo a vigésima posição nos charts de álbuns do país, Tkay só foi conquistar o reconhecimento global em 2020, quando lançou a segunda parte de uma trilogia de EPs, todos intitulados Last Year Was Weird. O que os separava do primeiro projeto da artista era, principalmente, a seleção certeira de batidas e influências que enfatizavam sua ousadia, posicionando-a como uma das figuras mais interessantes de se acompanhar dentro do hip-hop feminino. Enquanto diversos momentos de seu debut soavam como uma cópia barata da sonoridade eclética de M.I.A., os EPs balanceavam inspiração e originalidade de forma maestral e, honestamente, a maneira como ela conseguia encaixar tamanha versatilidade neles, indo do hip-house ao R&B e ao hip-hop industrial em um curto espaço de tempo, era impressionante. 

Sweet Justice, seu segundo álbum de estúdio e o primeiro em sete anos, soa mais como uma expansão das fórmulas que ela introduziu nos últimos lançamentos e menos como um registro que existe em um universo próprio, o que não o impede de ter destaques, mas também não faz dele tão impactante quanto poderia ser. Isso fica evidente já na capa, cuja arte grandiosa segue a linha temática apresentada em seus dois EPs mais recentes e deixa claro que Tkay é o ponto de destaque da obra, mas essa grandiosidade não reflete o produto por completo. 

Embora a expressividade de Maidza como rapper e cantora seja inegável e possa ser encontrada na maioria das canções — seja como complemento do batidão industrial de “WUACV” ou, então, entrelaçada no hip-house delicioso de “What Ya Know” —, a falta de uma variedade sonora que se adeque à proposta de um álbum composto por quatorze delas faz da repetição algo inevitável. E sim, o disco traz sonoridades muito diversas, transitando entre o pop, hip-hop, neo-soul e funk sem muito esforço, mas o que isso representava em um formato menor, onde cada música servia como um aperitivo do poder de criação da artista, aqui não tem o mesmo impacto, justamente porque essa versatilidade, por maior que seja, já foi explorada antes e não consegue preencher o espaço de um álbum que, à medida que progride, começa a soar redundante. Exemplos disso são as três últimas faixas, perfeitamente agradáveis e melódicas, mas completamente esquecíveis ao serem colocadas no final de um disco que já tinha explorado essa mesma estética no começo.  

Apesar disso, Sweet Justice se firma como mais uma representação do potencial criativo de Tkay Maidza, dessa vez, num tamanho maior. No papel, é seu segundo álbum, mas passa a impressão de que é o primeiro — ou melhor, é o primeiro com personalidade. Ele mostra que a cantora australiana ainda veste suas influências, mas, agora, tem maior controle sobre elas. Seja pela modernização de conhecidas fórmulas de sucesso, como é o caso do uso das batidas clássicas de Timbaland junto ao UK-drill em “Won One” — dois estilos com padrão rítmico parecido e cuja semelhança é muito bem explorada aqui —, ou pela especificidade de suas combinações — Missy Elliott e Britney Spears ecoam em diferentes fragmentos da grudenta “Ring-a-Ling” —, ela referencia seus ídolos sem copiá-los e utiliza o legado deixado por eles a seu favor. 

“Ring-a-Ling”, em particular, seria um clássico hoje se tivesse sido gravada por Missy ou por Britney nos anos 2000, mas Tkay também consegue fazer seus próprios clássicos. Contando com Flume na produção, “Silent Assassin” é um experimento cibernético que coloca a artista dentro de um videogame: “Run it, set, ready, battle”, ela diz, enquanto a frequência dos sintetizadores difusos do produtor aumenta gradativamente. Em outro momento, ela brinca de diva pop: “Out of Luck”, parceria com Lolo Zouaï e Amber Mark, dialoga com o empoderamento pós-término sob uma refrescante fusão house-R&B. Ambas as faixas exploram a pluralidade inventiva de Tkay Maidza e são demonstrações muito expressivas da agilidade que ela possui ao transitar entre diferentes espaços, tanto na música, quanto na indústria. Ela pode se comportar como uma popstar ou como uma rapper, como também tem a liberdade de escolher entre o alternativo e o comercial, porque é boa fazendo ambos, e Sweet Justice, apesar dos enchimentos, atesta esse privilégio.

MAIS CRÍTICAS PARA

plugins premium WordPress