SOUNDX

GUTS

• Geffen

• 2023

7.8

GUTS é um trabalho energético de catarse e uma peça-chave no renascimento pop-rock.

GUTS

• Geffen

• 2023

7.8

GUTS é um trabalho energético de catarse e uma peça-chave no renascimento pop-rock.

PUBLICADO EM: 11/09/2023

PUBLICADO EM: 11/09/2023

No final do seu ótimo segundo disco, GUTS, Olivia Rodrigo conduz uma declaração dolorosamente honesta: “I’m sorry that I couldn’t always be your teenage dream”, ela canta em “teenage dream”. Essa é uma faixa intensa por si só — suas passagens que relatam as incertezas do processo de amadurecimento rasgam até as camadas mais grossas de pele que qualquer um possa ter: “Yeah, they all say that it gets better / It gets better, but what if I don’t?” —, mas que se torna ainda mais carregada se você considerar o contexto em volta dela. Desde 2021, quando estreou com o hit global “drivers license”, Rodrigo se tornou uma estrela pop rara: a ex-atriz e cantora do Disney Channel escalou rapidamente na montanha da fama, ao passo que ia conquistando ovação também. Por outro lado, problemáticas em torno da originalidade de seu material surgiram depois dos vários samples presentes no registro de estreia que não foram propriamente creditados. Como os homens sábios sempre dizem: com grandes poderes, grandes responsabilidades, e embora seus problemas, Olivia segurou bem suas pontas.

GUTS, o sucessor do primeiro álbum de Rodrigo, SOUR (2021), é uma progressão natural, tanto em temática, quanto estilo. Da mesma forma que seu irmão mais velho, esse novo disco surge no clímax do renascimento do pop-rock no mainstream e usa disso como força narrativa. Trabalhado de forma ainda visceral com guitarras e gritos distorcidos, GUTS (que significa, em tradução, estômago ou entranhas) navega em meio das turbulências da vida de uma jovem de 20 anos, que tenta entender tanto a si mesma, quanto o mundo ao seu redor. Embora sofra com momentos sonolentos e sem charme, esse é um trabalho, em grande parte, de catarse e que propõe um autoconhecimento que pode ser, facilmente, partilhado. 

O maior acerto de GUTS é sua adoção em peso da estética pop-rock. Em SOUR, os momentos mais memoráveis eram aqueles que Olivia, na frente de uma sonoridade pintada pelo grunge, abraçava sua vergonha e a cantava com orgulho. Em GUTS, isso recebe um incremento, como se fosse uma versão ainda mais crua e violenta. Na música de abertura, pautada pela progressão marcada entre duas fases — de um lado, acordes sutis e soltos, e do outro, cordas mais intensas —, Rodrigo toma um caminho mais carinhoso consigo mesma, assumindo que tem qualidades (“I pay attention to things that most people ignore”) e dando um passo grande além para quem, em seu registro anterior, sempre se olhava com olhares depreciativos. E é justamente nesses momentos de intensidade que Olivia assume novas perspectivas para suas canções: “bad idea right?” mostra uma garota que sai com seu ex-namorado de caráter questionável apenas para sexo casual, enquanto “get him back!” olha para um caso do passado com tom deboche, mas desejo de vingança (“I wanna get him back / I wanna make him really jealous, wanna make him feel bad”). Por fim, “ballad of a homeschooled girl” é o ponto onde todas essas facetas colidem, arquitetando a melhor canção do álbum. Essa é uma faixa energética que encapsula todos os lados bons e ruins, certos e errados do processo de tentar encontrar quem você realmente deseja ser — ah, e conta com a citação mais memorável do ano até agora: “Every guy I like is gay”.

Por outro lado, nos momentos em que GUTS tenta diminuir sua velocidade em prol do equilíbrio, ele perde a mão e se torna monótono até demais. Em contraste com essas canções mais agressivas, há as baladas, as quais tem o apelo e utilidade de dosar bem as faces do disco, mas que, na maioria das vezes, soam opacas. Em palavras gerais, essas canções mais “delicadas” raramente tem instantes verdadeiramente memoráveis e, quase sempre, contam com progressões repetitivas dentro do mercado. “lacy”, por exemplo, além de ser uma releitura ainda mais vitimista de “jealousy, jealousy”, é cansativa e luta para encontrar uma personalidade entre os arranjos mais simplistas de cordas. Mais tarde, “making the bed” tem uma letra relativamente perspicaz, mas soa como qualquer canção introspectiva de bedroom pop, enquanto “logical” acaba sendo redundante. A sensação final é que não parece que essas são faixas projetadas para estarem ali para equilibrar algo, mas sim vítimas de um binarismo composto por canções que orientam um trabalho maior e por faixas que estão ali preenchendo espaço.

Próximo de SOUR, GUTS é uma evolução, definitivamente — mas não tanto quanto poderia ter sido. Os caminhos de adotar assuntos que já estavam presentes no primeiro álbum e taxados como resolvidos — visto em “logical” e “the grudge” — para deixar de lado perceptivas ainda mais maduras — como ela faz em “all-american bitch” e “get him back!” — é desanimador. Em conjunto, presença de faixas que parecem ainda estarem em desenvolvimento também deixa o desejo de “quero mais”: é realmente amor o que ela narra em “​​love is embarrassing” ou ela só quis criar um nome divertido para uma faixa, sem realmente ver se isso se encaixava no contexto? Diariamente, GUTS fluirá perfeitamente, mas toda vez que você parar para pensar nele, sairá com mais questões do que resoluções.

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