Na estreia de Conan Gray, Kid Krow, estava presente a faixa “Maniac”, em meio à  tendência oitentista que dominava  fortemente aquele período. Era uma música synthpop que, por mais que não tenha se destacado tanto nos charts, mostrava-se  bastante divertida. Da mesma forma, no ano seguinte ao lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, ele apresentou uma abordagem similar com “Overdrive” e “Telepath”, porém, de forma mais bem trabalhada, a partir de melodias de maior primor e produções que conseguiam trazer os sintetizadores de maneira mais cativante.

Apesar disso, não foram suas aventuras no synthpop que trouxeram melhores resultados em termos comerciais para Conan, mas sim, a balada folk pop com sensibilidade indie de “Heather”. Com isso, sua  gravadora o influenciou a seguir um caminho mais próximo ao seu maior hit e, assim, os sintetizadores divertidos de “Overdrive” e “Telepath” foram deixados de lado para focar nos acústicos em seu segundo álbum, Superache.

É nesse contexto que vem seu novo registro Found Heaven. Aqui, ele se aprofunda nas inspirações nos anos 80, que já foram entregues no passado por ele, mas que nunca foram feitas de base para algum de seus trabalhos artísticos completos anteriormente, e elabora uma obra que consegue captar as principais características da indústria fonográfica do período. Embora utilizar dos sons que foram tendência nessa década seja algo que muitos propuseram a tentar nos últimos anos, Conan Gray se destaca por sair do raso no que diz respeito à essa proposta e se aventurar mais nas sonoridades que marcaram a época. O disco não só faz synthpop oitentista, como também apresenta o new wave, explora ritmos de discoteca daquele tempo e traz baladas pop-rock poderosas. O artista, assim, consegue incorporar perfeitamente a imagem de grande popstar dos anos 80.

“Found Heaven” inicia o álbum fenomenalmente — é um pop-rock com performance arrebatadora do artista, além de ter melodias e produção poderosas. Em “Fainted Love” e “Lonely Dancers”, é apresentado synthpop com energia extremamente cativante. Já “Miss You” e “Boys & Girls” marcam os momentos em que o registro mais busca explorar o som das discotecas dos anos 80. A primeira apresenta ritmo envolvente por meio do baixo sintetizado, synths e baterias no estilo freestyle — vertente do dance-pop que dominou as pistas de dança da época. A segunda, por sua vez, utiliza de um sequenciador pulsante que remete ao hi-nrg — subgênero do electro-disco que fez muito sucesso nas baladas gays da década de 80, caracterizado pela instrumentação completamente feita por eletrônicos e sonoridade extremamente energética. Essas características são elaboradas junto a um tom descontraído que torna a canção ridiculamente divertida.

Não só de momentos dançantes se faz Found Heaven, mas também as baladas marcam grande parte da obra. “Alley Rose” e “Winner”, nesse sentido, são algumas das faixas mais formidáveis. A instrumentação serena e o vocal suave de Conan Gray nelas vão se transformando ao longo das canções em pop-rock com guitarras e melodias poderosas de maneira sensacional. Já “The Final Fight” relembra os melhores clássicos do adulto-contemporâneo dos anos oitenta. O principal fator para esse êxito é, além de Conan ter uma voz doce que combina muito com o tom das músicas do gênero, a habilidade do cantor de elaborar melodias apaixonantes. 

No geral, Found Heaven mostra Conan Gray finalmente tendo a liberdade para tirar do papel um projeto que já mostrava ter interesse em fazer há bastante tempo. O artista sempre teve uma grande afinidade com o synthpop oitentista e, agora, ele consegue finalmente se aventurar no universo dos gêneros que marcaram a década de 80 e tem excelente êxito em fazer isso. Essa é, de longe, sua melhor obra até o momento e, talvez, ele estar fazendo algo que tanto queria possa ser, acima de tudo, o grande porquê do resultado ter ficado  tão bom.