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WEEDKILLER

• Parlophone

• 2023

4.6

WEEDKILLER, para a própria infelicidade, acabou sendo apenas uma mísera tentativa falha de Ashnikko de transmitir suas mensagens ao mundo.

WEEDKILLER

• Parlophone

• 2023

4.6

WEEDKILLER, para a própria infelicidade, acabou sendo apenas uma mísera tentativa falha de Ashnikko de transmitir suas mensagens ao mundo.

PUBLICADO EM: 09/09/2023

PUBLICADO EM: 09/09/2023

Por volta de meados do século XVIII, em afronta ao conservadorismo das academias de arte, surgiu o impressionismo. Ao invés de procurarem capturar suas perspectivas do espaço observável a partir de traços precisos e detalhados, os adeptos desse movimento optaram por retratar as paisagens por meio de pinceladas mais simples, buscando explorar mais a intensidade das cores e trazer um ponto de vista mais otimista do que o habitual. Mais tarde, na Alemanha de 1910, veio o expressionismo como resposta dos alemães a tal acontecimento. Em contrapartida, os artistas desse meio procuraram distorcer a realidade ao seu redor, utilizando suas visões subjetivas e únicas do mundo em que vivemos. Com isso, os mesmos traçaram críticas pertinentes à sociedade e promoveram reflexões muito importantes. Atualmente, esses marcos culturais ainda possuem uma grande influência, inspirando muitos jovens talentosos. Dentre estes, encontra-se Ashton Nicole Casey, com sua personalidade artística provocativa, Ashnikko, e seu álbum WEEDKILLER.

Ashton Nicole Casey, também conhecida como Ashnikko, rapper, cantora e compositora estadunidense, entrou na indústria fonográfica prometendo se tornar uma das artistas mais populares da nova década. Sua personalidade extremamente provocativa, desavergonhada, rebelde e visuais únicos conquistaram os corações de muita gente. Com o lançamento da mixtape DEMIDEVIL (2021), cuja tracklist incluía grandes sucessos como “Daisy” e “Slumber Party”, a cantora norte-americana formou uma fanbase muito sólida e estabeleceu para si um espaço na cena pop alternativa. No entanto, quanto mais tempo se passava, mais notório se tornava a urgência de lançar mais músicas e, portanto, proceder a carreira de Ashton. Por mais que muito querido, o seu nome já estava começando a ser esquecido pelo grande público. Por isso, Nicole resolveu começar os preparativos para a chegada de seu álbum de estreia, o tão antecipado WEEDKILLER, lançando seu lead-single, “You Make Me Sick!”, e, posteriormente, mais alguns outros.

Assim como os artistas expressionistas de 1910, Ashnikko em WEEDKILLER procurou traçar críticas à sociedade atual fazendo uso da própria artisticidade, criando um universo fantástico onde uma fada heróica chamada Aster luta bravamente contra alienígenas cibernéticos que invadem a sua terra. Através desse conceito, Ashton retrata o cenário alarmante no qual se encontra a fauna e flora do planeta Terra, expressando seu descontentamento e angústia por meio da ferocidade de sua personagem e a dramaticidade de sua história fictícia. Porém, tal maneirismo já foi bastante utilizado anteriormente. Por mais que instigue muito, apenas a criação dessa narrativa está longe de ser o suficiente para fazer do álbum debutante de Nicole bom. Para estabelecer a cantora no cenário musical de uma vez por todas, a obra precisaria apresentar uma produção de alta qualidade e uma escrita eficiente, para assim conseguir trazer todo o aprofundamento e detalhamento necessário e se destacar. Contudo, Casey e seus colaboradores não conseguiram cumprir com nenhum desses requisitos.

WEEDKILLER, para Ashnikko, infelizmente, representa um enorme e frustrante retrocesso. É verdadeiramente admirável o esforço que Ashton teve para inovar sua própria sonoridade. Diferentemente de tudo o que já fez no passado, Nicole explora as batidas de gêneros adjacentes do pop trap e cria uma mesclagem interessante de sons, texturas e nuances de trap metal, industrial, pop, alt-pop e música eletrônica. Mostrando, assim, uma vontade genuína de inovar e aprofundar os próprios conceitos. Todavia, ela pôs todo o seu trabalho a perder ao agir muito despretensiosamente e não adequar o seu estilo espalhafatoso e grotesco para o tom mais sombrio e obscuro da sua história, o que tornou o disco extremamente ruim e falho. Toda vez que a cantora tenta retratar o mundo distópico de sua personagem e dissertar uma crítica propriamente dita, acaba a fazendo soar estúpida, muito rasa e quase sem nenhum sentido ao fazer uso de metáforas terríveis e não estruturar seus versos e refrões de uma forma concisa e coerente. Francamente, parece que a artista mais estava preocupada em soar esquisita e “conceitual” do que realmente compor com seriedade.

Ao começarmos a ouvir o disco, acompanhamos Aster, a heroína de Ashnikko, sendo reerguida no campo de batalha pelo seu inimigo, o qual se padeceu pela mesma e sua situação, lhe concedendo um novo par de asas mecânicas para substituir as que foram arrancadas durante o conflito. Ao cantar sobre isso na primeira faixa, “World Eater”, Ashton diz querer fazer um desabafo sobre a frustração que sente ao se ver forçada a humilhantemente promover a sua arte nas redes sociais. Para representar esses sentimentos, ela mesclou o alt-pop e o pop trap e criou uma sonoridade bastante apoteótica e anárquica. Surpreendentemente, a canção serve muito bem como uma introdução para WEEDKILLER, pois emoldura com exatidão toda a obra, entretanto a falta de coerência na letra faz com que ela perca muito de seu valor (“I’m sweet like antifreezer”), e não ajuda nem um pouco o fato da música ser seguida da desordenada “You Make Me Sick!” e “Worms”, cujas composições conseguem ser ainda mais inconsistentes.

Posteriormente, WEEDKILLER consegue reconquistar a atenção do ouvinte ao experimentar de forma ousada na indecente “Super Soaker”. Em parceria com Daniela Lalita, artista visual peruana, Ashnikko cria uma música bastante interessante sobre sexualidade e feminilidade. A escrita despojada dela, por mais que ainda muito estranha e confusa, se encontra mais confortável e entusiasmante dentro da zona de conforto de Nicole, e a química entre ela e a convidada é extraordinária. As duas entregam performances sólidas, e a produção, com a batida marcante de techno e pop, é muito boa e satisfatória. Mais adiante, o álbum inspira e expira novamente os bons ares da genialidade subestimada da artista com a explosiva “Cheerleader” e a radical “Chokehold Cherry Python”. Porém, infelizmente, não consegue recuperar o fôlego e acaba sendo prejudicado pela mediocridade das demais músicas incluídas em sua tracklist.

O debut de Ashnikko na música não poderia ter sido mais decepcionante. Quem a acompanhou em seu auge artístico sabe muito bem o quanto esse álbum fica aquém de todo o seu talento. Infelizmente, ela parece ter se perdido durante o desenvolvimento de suas ideias criativas e não as trabalhou devidamente, o que acabou figurando num projeto fraco, patético e defeituoso. É triste demais ter de admitir isso, mas esse disco chega até mesmo a se comparar com o desastroso PORTALS de Melanie Martinez, lançado no início deste ano, de tão ruim e envergonhante que é. WEEDKILLER, para a própria infelicidade, acabou sendo apenas uma mísera tentativa falha de Ashnikko de transmitir suas mensagens ao mundo. Agora basta torcer para que Ashton faça melhor na próxima vez.

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