SOUNDX

“White Dress”

10

Um dos pontos mais fortes do sexto disco de estúdio de Lana Del Rey, Norman Fucking Rockwell!, é seu caráter elegante e requintado, no qual a cantora se pintou como uma relutante a queda daquilo que ela sempre conheceu. “The culture is lit and I had a ball / I guess I’m signing off after all”, ela canta em “The greatest”. Em Chemtrails Over The Country Club, seu sétimo álbum — e o primeiro dos dois álbuns lançados este ano —, Del Rey perdeu um pouco desse cunho, porém “White Dress”, a faixa de abertura, é o ponto onde o que resta desse sentimento reflexivo da injustiça norte-americana reina com total potencial. A canção narra a cantora aos 19 anos, quando ela trabalhava como garçonete, lutando pelo respeito dos homens da indústria musical estadunidense. Em um falsete constante, que rouba a atenção de um piano e bateria, ela canta: “When I was a waitress wearing a white dress / Look how I do this, look how I got this”. Existe um teor elegante depressivo sobre uma visão de mundo que é singular de Lana. — Leonardo Frederico

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“The Only Heartbreaker”

09

Numa direção diferente do anterior single, “Working for the Knife”, “The Only Heartbreaker” é uma verdadeira demonstração do melhor do synthpop dos anos 80, transportado ao presente através de uma percussão eletrizante, cuja reverberação entra em harmonia com sintetizadores que crescem até uma explosão de guitarras distorcidas. Trata-se de uma confissão íntima de quem toma a culpa de uma relação falhada, tomando a responsabilidade de tudo o que correu mal e absorvendo toda a culpa a atribuir. Mas tudo isto tem um peso impossível de carregar, o que se traduz finalmente no clímax catártico – uma insurreição contra o ciclo vicioso de auto-culpa.  Diferente de todos os anteriores projetos de Mitski, o single continua a promessa de que Laurel Hell será um dos mais ambiciosos álbuns da artista nipo-americana, exibindo o génio lírico de Mitski e a verdadeira força da natureza que as suas faixas inúmeras vezes provaram ser. — Simão Chambel

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“Be Sweet”

08

A estrela do indie pop Michelle Zauner retornou, em 2021, com “Be Sweet”, um dos mais dançantes e revigorantes singles do ano. A canção perpassa por aspectos vintages do disco e do city pop e possui um delicioso refrão açucarado: “Be sweet to me baby / I wanna believe in you, I wanna believe in something”. O carro-chefe escolhido por Japanese Breakfast para apresentar seu mais recente álbum, Jubilee, poderia facilmente ser um dos maiores hits do ano, visto que a onda do disco tem impulsionado diversos artistas para o número um. No mais, a cantora coreana-americana inviabiliza a consternação e, despretensiosamente, ilumina o mundo com sua música. — Kaique Veloso

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“Good Ones”

07

“Good Ones” foi o primeiro gostinho da nova era — e última em sua atual gravadora — de Charli XCX, Crash. O single tem a proposta de enterrar, literalmente, a antiga Charlotte do hyperpop e de apresentar a todos sua mais nova versão maléfica, sagaz e destemida, não deixando de lado as letras sobre como ela sempre toma as piores decisões e deixa os bons irem. O instrumental pulsante é o mais contagiante em anos e, embora visivelmente simples, o gancho do refrão é extremamente divertido. Charli faz altas projeções para seu quinto álbum; o lead single, ao menos, ela acertou. — Kaique Veloso

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“Meu Pisêro”

06

O pop sofrência fez de Duda Beat um verdadeiro fenômeno na cena musical brasileira. Nenhum artista conquistou um público tão fiel cantando sobre desilusões amorosas com tanta propriedade assim como ela. Ao captar as nuances do amor explorando o brega, Duda fez com que a sua arte ganhasse notoriedade em cada lançamento, principalmente com a expansão da pós-MPB, em que ela, sem sombra de dúvidas, foi uma das principais responsáveis por fazer acontecer. Não muito distante do tempo em que as suas composições arrancavam suspiros dos seus ouvintes, em 2021 — ciente que precisava mudar a fórmula de fazer música — ela retorna com “Meu Pisêro”, o primeiro single do álbum Te Amo Lá Fora. E, quanto a mudanças, essa canção se mostra a mais verdadeira tentativa da artista em consolidar presença musical em forma de poesia e melodias repletas de influências. Utilizando da pisadinha como base sonora, Duda canta sobre o amor como uma assombração. Essa temática fica ainda mais evidente quando as referências demonstradas no videoclipe se tratam de filmes clássicos de terror. Na melodia, arranjos sintetizam a dor e a paixão, tudo ao mesmo tempo em que o instrumental se alinha perfeitamente com os vocais prontificados e uma composição lírica extremamente significativa, ao tratar de superação como parte do show de horrores apresentado na proposta, isso pode ser visto no trecho: “Morri, eu fiquei aos pedaços / Mas tu não é culpado de não me amar assim”. — Matheus José

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“Pay Your Way In Pain”

05

Annie Clark moveu-se completamente para outra cronologia em Daddy’s Home. Toda sua estética, sua instrumentação e seu jogo de cintura remetem aos passados ídolos do pop e do rock: Joni Mitchell, Pink Floyd, Candy Darling, entre outros. “Pay Your Way In Pain” foi a canção responsável por introduzir todos a essa nova jornada. O sintetizador rústico que acompanha todo o trajeto subsidia a história de um personagem em um péssimo dia, sem comida nas prateleiras ou dinheiro no banco e, ainda, rejeitado pelas mães com seus filhos no parquinho. Esse personagem é Annie sendo forçada a escolher entre sobrevivência e dignidade. No final de tudo, ela só queria ser amada. — Kaique Veloso

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“All Too Well (10 Minute Version) (Taylor’s Version) (From The Vault)”

04

Há quase uma década, Taylor Swift, em uma entrevista para o Good Morning America, disse que a versão de sua melhor música, “All Too Well”, lançada em seu quarto disco de estúdio, Red, era uma espécie de edição podada da canção original. Segundo Swift, ela e Liz Rose tinham se unido para cortar várias linhas da canção visando deixá-la mais curta, para assim conseguir encaixar a peça dentro do disco. Naquela época, para Taylor, era incabível uma canção ter mais de dez minutos — ou, pelo menos, ela não se sentia digna de tal honraria. 

Com seu ambicioso projeto de relançar seus seis primeiros discos para recuperar os direitos autorais sobre suas masters, Swift optou por regravar a versão original de “All Too Well”, a qual passa dos 10 minutos de duração. Nesse sentido, se a primeira versão já era uma espécie de diário imagético fidedigno de uma separação dolorosa, essa nova edição estendida eleva esses sentimentos para um novo nível de detalhes. Os versos adicionados acrescentam certa profundidade capaz de canalizar todos os estágios de um começo e término de relação com detalhes vívidos. Sendo uma das únicas faixas produzidas por Jack Antonoff em Red (Taylor’s Version), “All Too Well (10 Minute Version)” opta por batidas sintéticas ao invés do piano da versão de 2012, criando determinada sonoridade que atinge ápices abstratos, refletindo a sensação da obrigatoriedade de dizer adeus. É a melhor canção de Swift até então. — Leonardo Frederico

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“Happier Than Ever”

03

Billie Eilish é uma cantora que conquistou o mundo com seu estilo vocal próprio, denominado por muitos como “sussurro” ou “ASMR”, dada a delicadeza da sua voz e o quão minimalista e cativante ela é. Em “Happier Than Ever”, a artista choca totalmente os seus fãs casuais, mesclando o seu estilo usual com outro completamente diferente. Na canção, os vocais da cantora estão projetados de uma maneira nunca antes ouvida, e a integração de elementos rock é algo que não esperaríamos de Billie, mas que funcionou perfeitamente. Em adição a esta mudança de sonoridade, Eilish narra de maneira honesta e poética as vivências de um relacionamento tóxico e o sentimento que é sentir-se mais feliz longe da pessoa que amamos. — Gerson Monteiro

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“Boys at School”

02

No cerne de The Turning Wheel, o devidamente aclamado lançamento de Tia Cabral, a faixa “Boys at School” brilha com um tom que a diferencia das restantes. A artista vê a faixa como uma peça sagrada que produziu, pois esta a ajuda num exercício catártico de autorreflexão, comparando os progressos que fez desde a sua juventude até quem se tornou mais tarde. Assinalando um momento de mudança no álbum em direção a sonoridades mais sombrias, a solitude de um piano funde-se com a misticidade de um arpeggio hipnotizante de sintetizadores. A faixa evolui, tal como Spellling, durante os seus 7 minutos, introduzindo uma percussão incessante antes de solos de guitarras que transmitem uma imensidão magnificente. Cabral sabe exatamente como criar o épico, e aqui consegue-o provar por todas as frentes. O crescendo soa infinito e o final triunfante. — Simão Chambel

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“Introvert”
01

No decorrer de todo esse ano, nenhuma outra canção soou tão forte, concreta, potente e grandiosa como a — quase — faixa-título do quarto disco da rapper britânica Little Simz, Sometimes I Might Be Introvert. Segundo a cantora, a peça é essencialmente sobre encontrar poder dentro de sua própria introversão. Esse viés imaginativo é refletido tanto pelo instrumental, o qual apresenta um início triunfal coordenado por uma banda orquestral de desfile, quanto pela composição, abrangendo desde as lutas de uma mulher negra na sociedade contemporânea, até as crises existencialistas do interior da mente humana. Mesclando a magnificência dos gloriosos sopros com as batidas digitais de rap, Simz cria um som ambicioso, enquanto traça, em sua letra, as linhas mais afiadas de sua carreira. “Sometimes I might be introvert / There’s a war inside, I hear battle cries,” ela começa, e complementa depois: “Projecting intentions straight from my lungs / I’m a Black woman and I’m a proud one”. Nesse ano, ninguém foi tão visionário quanto ela foi nessa canção. — Leonardo Frederico

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